Parte da Introdução do meu livro: TEMPESTADE - A Última Chance.
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Há inúmeros processos para antecipar a morte, não necessariamente a morte física. A morte emocional, a perda da alegria, a degeneração da mente, a degradação de sentimentos e a aridez de espírito são processos infinitamente mais dolorosos e cruéis do que a extinção da vida física.


 

A chuva cinza e insistente caía há mais de dois dias e eu a observava com a mente e o coração tranquilos. Era o que me dava alívio quando precisava passar por aqueles períodos de trevas. Jamais me conformei com o rumo que as coisas tomaram e não acreditei que seria capaz de permanecer tanto tempo fazendo aquele tipo de trabalho. É impressionante como acabamos nos adaptando a determinadas situações que inicialmente se mostram terríveis, mas com o tempo, são agregadas ao dia a dia e passam a fazer parte da rotina. Foi exatamente assim que aconteceu comigo. No princípio, qualquer movimento era complicado e doloroso, hoje, aqui deitado nesta cama macia e aconchegante, nem me preocupo mais. Executo tudo meticulosamente e da melhor forma possível e quando acabo, sigo meu caminho sem pensar em nada.

Desenvolvi este dom há muito tempo: o de bloquear as lembranças e pensamentos dolorosos que alguns casos faziam surgir. É este dom que me alivia de algum modo. Durante muito tempo, dei margem para estes pensamentos e vivi em uma angústia constante, questionando a cada minuto da minha existência, se algumas vidas necessariamente precisavam ser interrompidas da forma como acontecia. Um dia, percebi que eram questionamentos tolos, que não mudariam em nada as decisões estabelecidas, e eu era o único a sofrer com eles. De qualquer forma, já tinha a dor das minhas próprias memórias, não precisava acumular também a dor alheia.

As gotas de água escorrendo pelo vidro da janela lembram pequenas lágrimas de cristal ou seriam contas de algum colar que já vi no pescoço de alguma mulher? Não importa, qualquer uma das imagens tira o fôlego pela beleza. Além da janela, em um fundo distorcido pelo cinza da chuva, consigo ver ondas altas e raivosas quebrando nas rochas também tingidas de vários tons de cinza. Não consigo deixar de pensar na exuberância deste cenário e na generosidade de Deus quando concebeu tantos detalhes. Imediatamente me pego rindo deste pensamento. Muitas vezes questionei o quanto Deus tinha a ver com tudo isto, mesmo porque, muitas vezes também perguntei se a divindade não era apenas uma mera observadora. Tenho que rir novamente. Às vezes, minha estupidez é gritante. Há muito tempo nós tínhamos feito as pazes, Deus e eu, e hoje, já consigo compreender a riqueza de detalhes em cada pequena geração sem questionar quem é o autor. Não foi uma batalha fácil, admito. Não sou do tipo que se conforma com frases de efeito ou com histórias que de tanto serem repetidas, acabam se tornando verdades absolutas, muito pelo contrário, sou um investigador, um questionador, rotulado muitas vezes de insatisfeito e de rebelde. Não me importo. É exatamente esta irreverência que me aproximou da divindade e me permitiu tocá-la em toda sua magnitude, mas também em toda a sua humanidade...

Edeni Mendes da Rocha
Enviado por Edeni Mendes da Rocha em 30/11/2011
Reeditado em 30/11/2011
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