O isolamento em obras literárias
O isolamento em obras literárias
Como John Donne afirma: “nenhum homem é uma ilha”, realmente isto é coerente, mas podemos localizar inseridos em obras literárias, de importância incomensurável, o retraimento de alguns personagens que ganharam notoriedade singular.
Podemos notar este isolamento em parte da obra, Eurico, o presbítero, de Alexandre Herculano.
Ao voltar da difícil luta nas montanhas contra os montanheses e seus aliados, Eurico, pede ao Duque Fávila a mão de Hermengarda em casamento, no entanto o duque a nega, a partir daí é que podemos notar a reclusão de Eurico. Ele parte para Carteia, onde se torna presbítero.
“O presbitério, situado no meio da povoação era um edifício humilde. [...]” (p.35)
“[...] as suas janelas, por onde a claridade, passando para o interior se transforma em tristonho crepúsculo. [...]” (p.35)
Neste presbitério é que Eurico, após a negação de Fávila, procurava sua paz de espírito, buscando ficar isolado com seus pensamentos, orações e meditações acerca de sua vida.
“Educado na crença viva [...]” (p 37)
“[...] foi procurar abrigo e consolações aos pés d’Aquele cujos braços estão sempre abertos. [...]” (p.37)
Vemos neste átimo um significativo retraimento.
Neste fragmento nota-se que além do isolamento de importância imensurável que é o insulamento da alma, há também o do espírito humano que chegou ao ápice da sua solidão.
“Não tardou a espalhar-se na povoação e nos lugares circunvizinhos que Eurico era o autor de alguns cânticos religiosos transcritos nos hinários de várias dioceses. [...]” (p. 40)
Ao ler a magnífica obra, nota-se que para chegar a estas composições, Eurico permanecia em enorme isolamento físico e espiritual, o que lhe conduzia aos mais divinos hinos religiosos.
O maior isolamento da terra
A mim torna-se impossível pensar em isolamento sem lembrar-se d’Aquele que foi o maior difusor do amor e da compreensão.
“Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsêmani e disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. [...]” (p.1317)
Neste momento Jesus se vê no maior isolamento em que qualquer ser humano já havia passado ou iria passar. Ele sente-se extremamente sozinho, não só da companhia humana, mas também por um vazio no cerne do seu coração. Neste momento ele eleva seus pensamentos ao Pai eterno e sente-se enlevado e reconfortado por poder cumprir os desígnios de Deus. Este não poderia ser comparado a nada nem a ninguém. Neste momento Cristo coloca tudo nas mãos de Deus, ele deixa a sua condição humana para cumprir os desígnios do Pai, Ele não se importa com as condições que terá de enfrentar para que a vontade do Pai seja cumprida.
Cristo ainda diz:
“ Meu Pai, se não é possível que este cálice passe sem que eu o beba, faça-se a tua vontade! [...]” (p.1318)
Percebemos agora como Ele se desprende de tudo que possa a vir a ser sentimento humano e isola-se dentro de um dogma incontestável que é a total e irrestrita vontade do Pai eterno.
Nenhum homem é uma ilha ( Donne tem razão), porém criamos ilhas dentro de nós quando ficamos absortos em um isolamento íntimo, físico e espiritual, chegando assim a pensamentos de ampla reflexão.
Referências bibliográficas:
Herculano, Alexandre. Eurico, o presbítero. 5 ed. Portugal: Publicações Europa-América, 1980.
Pedreira de Castro, João José. Bíblia sagrada. 14 ed. São Paulo: Ave Maria, 1998.