Figura: João Cabral de Melo Neto - Natural de Recife - PE -
nascido  em: 09/01/1920
Falecido em: 09/10/1999





  A Educação pela Pedra       -        EC          -
 
    [João Cabral de Melo Neto)

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, freqüentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
[pela de dicção ela começa as aulas].
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra [de fora para dentro,
Cartilha muda], para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
[de dentro para fora, e pré-didática].
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

Publicado em 1965, A Educação Pela Pedra, de João Cabral de Melo Neto, reúne os traços determinantes da poesia de João Cabral de Melo Neto. Além da excelência de sua poesia pela consciência construtiva da linguagem, João Cabral consegue ser uma singular forma de realização do que se pode compreender por linguagem poética. Apesar de ter produzido livros fundamentais até o final do século XX, A Educação pela Pedra vale como espécie de módulo quadrangular da obra como um todo.
Linguagem seca, precisa, concisa, desprezo pelo sentimentalismo. A arte não é intuitiva - é calculada, nua e crua.

Há em Cabral uma verdadeira "didática da pedra", como processo teórico e prático da preensão da realidade. Essa "educação" consiste num processo de imitação de objetos, pelo qual é possível tratar da realidade através do poema, isto é, através de uma forma, de uma linguagem que para sua estruturação não despreza, antes acentua, a existência do objeto, segundo João Alexandre Barbosa.

A pedra nos remete à aridez humana e geográfica do Nordeste e é símbolo constante na obra do autor, fazendo confluir a temática social (linguagem-objeto) com a reflexão sobre o fazer poético no próprio texto artístico (metalinguagem).

Aqui a pedra ensina ao homem. A pedra, um objeto inanimado, duro, frio, que à princípio não tem nenhuma qualidade, não demonstra nada, não faz nada, é passada despercebida, ganha em João Cabral essa poesia fantástica. O poeta detestava música, comparava a poesia a um cálculo matemático, relegava a emoção a segundo plano para chegar à perfeição da construção do poema, calcado na colocação das palavras precisas e fundamentais para cada espaço do papel, nada a mais, nada a menos, só a precisão, o contido, o visual.

Observe, no texto que segue, a recorrência à pedra, num outro passo da "educação" que ela exerce na feitura / leitura do poema.

Pesquisa:
 http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/a/a_educacao_pela_pedra 
                    

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Diante de um exercício criativo de difícil percepção e desenvolvimento temático, preencho a grande lacuna
com uma humilde e pequena poesia:

   Pedra que bate no peito

Fria e insensível pedra de gelo
a desmanchar-se em água,
o corpo congela, e a  empedrada
pedra, na pedreira do coração pára...
Empedrado, rude e gelado...
é pedra que bate  no peito,  
significativo empedramento,
pedregulho desenhando letras
na lápide musgosa e  fria.

(Maurélio Machado)



Este Texto faz parte do Exercício Criativo: A Educação pela Pedra
Vejam as demais participações:
http://encantodasletras.50webs.com/pelapedra.htm