Desaparecido para sempre
 

Na língua mãe do autor é Gone for Good. Nem vou considerar se o título na minha língua materna é adequado. Passo logo para os finalmente. Ficção americana. Não sabia que estavam classificando assim agora, bem abrangente. A ficção que escrevo também é americana. Restringindo um pouco, sul americana.  Mas americana. Ficção. Deve ser mais sofisticado do que romance policial. Existem controvérsias sobre o valor do romance policial. Enquanto isso eu leio e me divirto.

O narrador, na maior parte da história, é de certa forma o protagonista. Porque é a história dele. Mas transformado em filme ele não seria o ator principal. Nem o melhor. É muito bonzinho. Quem ganharia os troféus seriam outros. Com papéis mais consistentes, Will, o Senhor Ingênuo. Todos mentem para ele. Principalmente todas. E ele acredita no que acha mais conveniente acreditar. Ou não questiona situações questionáveis ou questiona para reforçar a crença que seu coração prefere aceitar como verdadeira.

A história começa com a morte de Sunny, a mãe de Will. Sim, o nosso herói tem mãe, pai, uma irmã e um irmão. Desaparecido para sempre. Ou Gone for Good. O nosso herói tem uma família que já começa meio capenga. O irmão sumiu, a mãe acaba de morrer, a irmã, quando o irmão sumiu mudou para o lugar mais longe possível.

Com a morte de Sunny os tempos vão se unir novamente. Os onze anos engolidos pelo desaparecimento do irmão vão desaparecer para que a história retome ao passado. Assim começa a narrativa, com Sunny, a mentirosa arrependida, jogando uma bomba no colo de Will: " Três dias antes de morrer, minha mãe me disse – não foram bem suas últimas palavras, mas quase – que meu irmão ainda estava vivo.” Não era uma suposição. Era uma certeza. A suposição fora construída nos últimos onze anos: Ken morreu e sumiram com seu corpo. Porque a família não podia acreditar que Ken fugira ,porque matara Julie. A moça da vizinhança que fora o primeiro grande amor de Will.

Quantas mulheres enganaram Will? Com nome e sobrenome contei quatro. Will é boa gente, é enganado, mas não revoltado. Mas também vai aprender com seu amigo Squares coisas muito importantes. Ele vai aprender que é possível compreender, mas é muito difícil esquecer. O peso do passado. Squares não é mentiroso. Will e Squares = amigos. Ao lerem o livro, prestem atenção na relação de amizade dos dois. São trechos de encher qualquer coração de emoção. Amizade. Amigos não mentem. Posso contar a razão do apelido: ele tem tatuado na testa um quadrado formado por quatro quadrados. Ou um quadrado com uma cruz dentro. Mas não vou contar qual era a tatuagem que estava ali antes e que foi modificada. Dou um doce para quem adivinhar. Doce de leite, o mais típico das Minas Gerais.

Gostei do livro. Gostei da história. Gostei da forma como foi contada. Os mistérios surgindo e aos poucos sendo desvendados. Tudo acabou bem? Tudo sempre acaba bem quando se aplica a máxima: entre mortos e feridos salvaram-se todos. Morreu quem tinha que morrer, foi preso quem tinha que ser. Os mortos foram descansar em paz e os vivos foram ser felizes para sempre. E aí podia até começar outra história. E quem quiser que conte outra então.

O autor é Harlan Coben. Eu o descobri lendo uma resenha sobre um livro dele em um blog. Resolvi arriscar e comprei. Confie em mim. Muito bom, podem confiar em mim também. Uns sete dos seus quinze livros já foram publicados no Brasil. Sei que um deles foi adaptado para o cinema francês e ganhou quatro Cesar. (Ou seria Cesares?) Ele representa aquilo que nós poderíamos considerar: Eta vida boa, meu Deus (O sonho americano). Ainda não tem cinqüenta anos, é casado com uma pediatra, tem quatro filhos bonitos e saudáveis, mora em uma casa de subúrbio e já vendeu mais de 40 milhões de livros e ganhou os prêmios literários mais importantes do país. Eu não posso negar: ando meio invejosa ultimamente.