Buscas Curiosas – Margaret Atwood
 

Acabei de ler o livro da canadense Margaret Atwood – Buscas Curiosas, editado pela Rocco.

Ela diz, no Prefácio – “é uma coletânea variada de textos avulsos, isto é, textos escritos para ocasiões especiais.” Essas ocasiões especiais tiveram como resultado, resenhas, artigos jornalísticos de variada natureza e obituários. Foi a leitura desse prefácio que me levou a comprar o livro já que aprecio a variedade de assuntos além de achar que essa variedade me daria uma visão bem nítida do pensamento da autora.

Levei um longo tempo para terminar a leitura. Esta foi interrompida várias vezes por variados motivos. Cheguei a levar o livro comigo para um passeio na Europa, mas lá ele nem mesmo saiu da mala. Mas isso é viável acontecer quando cada capítulo encerra um tema – a gente lê e não fica aflita para chegar ao fim.

Margaret faz de tudo quando o assunto é escrever: contos, romances, ensaios, roteiros e o que eu já falei acima: artigos, resenhas, obituários. Eu também faço de tudo quando o assunto é escrever – só que há uma diferença muito grande entre nós: ela recebe em dólares, eu pago em reais.

Seus interesses em relação à literatura são diversificados e alguns batem com os meus. Foi bom ler sobre alguns autores que também são do meu interesse: Updike, Garcia Marquez, Elmore Leonard, Dashiel Hammet. De outros, principalmente canadenses, ouvi falar pela primeira vez e provavelmente nunca vou lê-los. Em compensação ela não escreve sobre nenhum escritor brasileiro. Provavelmente nunca ouviu falar deles. E nem vai ouvir.

Tenho outros dois livros dela: O assassino cego, do qual gostei muito. Tenho também Olho de Gato que está na fila.

A leitura de Margaret Atwood não é fácil. Considerando-se o pouco que li, muitas vezes outros pensamentos me desviavam do seu e eu voava longe com meus próprios pensamentos. Outras vezes, o que ela diz, faz com que eu voe em direção a minha própria história. Ela conta em um determinado momento que fez seu primeiro discurso aos dez anos – e eu então voltei no tempo e me lembrei do primeiro que fiz – eu ainda não tinha dez anos. Mas ao contrário dela, que diz ainda passar por crises antecipadas de pânico, eu desenvolvi um truque e nunca mais me importei de falar em público – tiro os óculos e deixo de ver a platéia. Também quando ela alegou ter dificuldade em fazer críticas de livros porque isso a obriga a ter opiniões, mas que as faz para não quebrar o princípio da reciprocidade (eu critico o seu, você critica o meu) eu me vi no Recanto das Letras lendo e comentando. Porque isso que acontece por aqui. Esse princípio é a mola mestra do funcionamento do site.

Quando ela diz “não resenho livros de que não gosto” fiquei pensando em como realmente é difícil falar do que não se gosta e ainda mais do que não se leu e fingiu ler. Eu, na medida do possível tento não falar mal do que não gostei porque as poucas vezes que fiz uma consideração qualquer, que nem considerei ofensiva, mas apenas um toque mostrando a minha incompreensão, ganhei não leitores que fogem de mim como o diabo da cruz. Assim, quando não gosto e não tenho absolutamente nada para dizer, finjo que não li.

É interessante perceber que ela sempre cita quando e onde leu o livro, principalmente aqueles que a acompanharam desde os tempos de sua formação como leitora. Ela conclui dizendo que esse seu hábito está relacionada à compreensão de que o efeito que um livro nos causa sempre estará ligado à idade que temos quando o lemos e ao lugar em que estávamos e que o afeto que temos por eles nos acompanhará para sempre. E de minha parte acho que está certa: li O Garimpeiro, de Bernardo Guimarães, no banheiro de minha casa quando tinha oito anos. Só que nunca tive coragem de relê-lo com medo de perder o encanto. Mas nunca me esqueci dele.

Este livro é mais ou menos como um livro de cabeceira. Podemos consultá-lo várias vezes durante o resto de nossas vidas embora ele tenha capítulos completamente dispensáveis. Sei que o utilizarei ainda pelo tempo que me resta. Mas se nunca mais voltar a lê-lo também não fará muita falta. No entanto ao lê-lo descobri uma mulher fascinante. Em cada texto que escreve ela deixa escapar esse eu que faz dela uma pessoa fora de série – inteligente, madura, brincalhona, curiosa, uma mulher da qual seria muito bom ser amiga. (18/07/2010)