A VIDA DO BEBÊ, de JOSÉ CLÁUDIO ADÃO
***Pra vc, José Cláudio Adão, esta resenha com gosto de crônica. Abraço e outra vez, parabéns.
Demorei, mas cheguei, José Cláudio. Gosto mesmo é de chamar você de Zé. Zéeeeeeee, que nome mais brasileiro, todo mundo é Zé. Não sabe o nome? Zé, seu José, Zézé.
Começando pela dedicatória no meu exemplar, achei-a deliciosa, mesmo sabendo que não sou “uma dama da poesia”. Eu escrevo versos conversadores do sentimento que mora em mim. Sempre pensei fazer poesia, mas vivo desconfiada.
A vida do bebê, de José Cláudio Adão, é aquele livro gostoso de ler, aquele do qual você não se cansa e se pega rindo à toa, lembrando de passagens engraçadas. Ou de repente a gente fica com uma cara séria, refletindo sobre as seriedades filosóficas existentes no texto do mineiro.
Dividida em 14 capítulos deliciosos, a obra de Adão é um Paraíso de letras que formam uma paisagem textual onde há uma maçã apetitosa. Depois dos capítulos, original que é, o autor faz as suas (in)disposições finais e mais uma parte de coisas que a vida nos ensina depois dos 40. Há tempos passei desse número, Mas esqueçamos. Nunca escondi a minha idade, entretanto, melhor não falar a respeito.
Será que chegaremos lá, lá no mundo criado por José Cláudio? Um mundo banhado em bentas águas? Deixo a pergunta aqui pendurada para depois verificar a resposta.
Fora do prazo de validade, teoricamente, muitos estamos. Hora de fazer revisão, sendo bom lembrar junto com o autor de A vida do bebê, que a revisão de garantia assegurada é aquela que se faz na mente.
A respeito de comer, que providencial está o texto. Parece que todos se danaram a comer e viver visitando a estressada balança. Diz a sabedoria popular que tanto a saúde quanto a doença vêem na boca a porta de entrada. Os conselhos do escritor são muito originais e de prazerosa leitura. Haja paciência para ler tantas matérias antipáticas aí publicadas em todos os tipos e formatos de revistas e outros. Feliz o leitor de Cláudio, assegurada terá a sua silhueta.
Muitas são as pesquisas que se referem ao fato de que imaginamos, criamos, acalentamos e gostamos de doenças. Se não aparecem, marca-se uma consulta ao médico. Pode deixar que o profissional da saúde está preparado para arranjar algumas, ou mesmo inventá-las ao gosto do hipocondríaco. A mente humana se especializa em fabricar males. Por certo, mau humor, transtornos os mais diversos e provenientes de todos os pólos, intolerância, irritabilidade, cara feia e tantas outras, são moléstias criadas em cativeiro.
Quanto ao sexo, sim, da euforia à leveza, não precisa de lições. A gente mesmo se ensina e se capacita na prática quase diária, intuitivamente, na voluptuosidade que não se expõe, mas que se faz. E suas considerações nos fazem acreditar que o sexo é assim como sentir a poesia, sentir vontade de cantar, de realizar e de criar. Aí, sim, haverá panos pras mangas e também para morangos, caquis, sapotis. Sexo de seres humanos de espírito refinado pode e deve ser exuberante, avassalador, afogueador, mas que os outros o percebam no olhar, nos gestos, no andar e na disposição de compreender o seu semelhante. Não é preciso fazer um show ao ar livre.
Os pensamentos de José Cláudio seguem em seu texto leve, claro, moderno, levando o leitor pelas sendas das ideias e coloca de maneira justa e equilibrada que não precisamos nem ir tanto ao mar e nem tanto a terra. Que sejam todos maduros, só isto, no ponto, na exata medida da contemplação. A conversa autor/leitor é de tal forma bem tecida que logo é fácil se entranhar nos parágrafos e desejar ler o livro de uma só vez. Ainda mais em passagens bem humoradas como a que fala da gente chata e “modificada”, aquele tipo que era vanguardista, esquerdista, revolucionário, terrorista e, por um motivo não muito justificável, mudou de posição e virou de direita. São uns fingidos de primeira. Simplesmente.
José Cláudio pede, mas, na verdade, ele é que nos dá lições de vida e fala sobre o cenário ao qual aportou a educação brasileira. Muitos são os tratados e estudos, mas pouco o avanço, pois o pessoal gosta mesmo é da teoria e jamais a permitem casar com a prática.
O tema da terceira idade nunca morre, envelhece e não morre. Tudo conversa fiada mesmo, Zé, desses que inventaram essa miserável etiqueta. Parece que não gostavam muito da mãe e se vingaram assim. Pode me chamar de qualquer nome feio, menos dessa expressão amaldiçoada.
A introdução de Mens sana in corpore sano, Capítulo VIII, é de uma graça especial: “Caminhando e cantando e seguindo qualquer coisa. Pedalando com almofada a poupança nunca dói. Corra, não pare, não pense demais que a vida é cigana”. É poesia!
A observação feita sobre o cidadão moderno ter um carro é de rara felicidade. Zé, existe até uma música, dessas de forró eletrônico, que diz “O cara ter carro”, o cara ter isto e aquilo. Pensei que essa mania fosse de cidades pequenas como Aracaju. Aqui, não ter carro significa ser doente, excluído e outra palavra que termina em ido.
Como diriam os franceses: Um peut de tout. Será que anotei certo? Meu francês é pouco. Gosto não se discute? Quem disse? Outro do tipo que criou a terceira idade. Inventaram a máxima (!) “gosto não se discute” pra desarmar o sujeito e deixar correr solto, evitar o debate. Estou com você, gosto se discute, pois, a falta de discussão evita a explosão de ideias, o crescimento intelectual. Discutamos o gosto a gosto.
Sobre religião, a coisa fica mais feia, o céu se turva, trovões, raios, ciclones. Quando se fala de religião a gente tem a impressão de que se trata de saber qual o melhor time de futebol ou qual seria o melhor técnico para a seleção de jogadores do futebol brasileiro.
José Cláudio não está por fora e nem inventa. É um observador da vida e do comportamento humano, um advogado com uma bagagem humana e disposição para conhecer mais de perto a senhora Dona Psique.
Não pense em parar e nem indisposto fique, siga em frente com a sua radiografia da sociedade atual. Gostamos de nos ver nas suas páginas.