A cozinha açafrão Yasmin Crowther




 Maryam Mazar é uma mulher iraniana de meia idade que vive em Londres há muito tempo. A sua ida para a Inglaterra não foi decisão sua, mas proscrita pelo pai por uma simples suspeita de comportamento inadequado não teve muitas escolhas. Na Inglaterra se casou com um homem bom e amoroso e teve uma filha, Sara. Sua vida porém sempre foi dupla: a externa, que vivia com a família e a interna, mantida por suas lembranças. Um incidente que causa o aborto de sua filha Sara leva Maryan a voltar para a sua terra em busca de si mesma, deixando para trás sua família, agora acrescida de seu sobrinho Saeed, filho de sua falecida irmã Mara. Em Londres, Edward, o marido de Maryan fica desolado pela partida da mulher que amava, mas que nunca permitira que ele acessasse o interior de seu espírito. Sara resolver atrás da mãe para trazê-la de volta ou simplesmente compreender o que estava se passada.

A autora, Yasmin Crowter, é filha de mãe iraniana e pai inglês, tal e qual sua personagem Sara. E embora garanta que o enredo é completamente ficcional, foram as suas vivências como uma cidadã de dois mundos que facilitaram o desenvolvimento deste que é o seu primeiro romance. É uma história boa de ler. Narrada pelas duas personagens principais, Maryan e Sara, que se alternam em suas falas é um livro para ler em tardes ociosas de férias chuvosas de verão e nada mais. Mais uma das denúncias sobre a falta de liberdade nos países de influência muçulmana e da opressão em que vivem as mulheres e as classes subjugadas pelo poder político, religioso e econômico.
 
Faz pensar: por que as editoras brasileiras não lançam um olhar mais acurado sobre os autores brasileiros e seus romances engavetados? Encher as prateleiras das livrarias com histórias do Oriente já está ultrapassando as medidas. E o pior é que eu ainda tenho muita coisa para ler já que, como sabem que gosto de ler, esse é o presente que mais recebo. Não sou contra a edição de livros de autores estrangeiros, pelo contrário, acho que a boa literatura não pode ter fronteiras. Mas A cozinha açafrão é apenas mais uma historinha contada por uma escritora razoável, mas que não deveria ultrapassar os limites da Inglaterra (Porque no Irã ela certamente nunca será editada).

O livro começa assim: “ No noroeste do Irã, nas planícies de Khorasan, existe um vilarejo chamado Mazareth. É uma colméia de muros de barro marrom, onde os montes se encontram com as planícies, longe da cidade mais próxima, Mashhad, com suas cúpulas douradas e seus minaretes. Lá vivem quarenta famílias ou mais, cujos antepassados cultivaram as terras e cuidaram dos rebanhos da antes poderosa família Mazar, que deu nome ao vilarejo”. E assim termino eu mais essa resenha escrita para não esquecer.

Lavras, 07 de janeiro de 2010

Maria Olímpia Alves de Melo