Para ler como um escritor - Francine Proser
 

Diz a capa: Um guia para quem gosta de livros e para quem quer escrevê-los. Eu gosto de livros e vivo escrevendo-os. E quem não precisa de um guia nesses tempos conturbados? Não havia como fugir: comprei o livro.

Há uma apresentação e um posfácio escritos por Ítalo Moriconi. Escreve ele que o livro é um manual, um guia, um livro texto para o aprendiz ou iniciante nas artes da escrita bem como para o leitor que quer perceber a literatura com os olhos livres do escritor e não como um intelectual ou ideólogo acadêmico. Porque quem põe amarras em textos não é quem os escreve, é quem os interpreta.

Livro para ler bem devagar curtindo as observações da autora sobre livros que já lemos ou que nos encantaria ler. E os livros que ela escolhe são os que acha melhores: os seus preferidos. Discordo dela: os melhores são os meus preferidos.

De cara ela pergunta se a escrita criativa pode ser ensinada? Bem, ela ganha a vida ensinando a escrever e ao mesmo tempo tece muitas considerações sobre a impossibilidade de ensinar alguém a escrever – o que é possível ensinar é a editar o que foi escrito. Ou seja – a capacidade de fazer alterações, revisar para expandir ou sintetizar, mas essencialmente o cortar, sem dó nem piedade, o supérfluo. O aprendizado da escrita literária se faz na verdade lendo e escrevendo. Um bom leitor necessariamente não é um bom escritor, mas um bom escritor necessariamente é um bom leitor. A não ser que seja um gênio, ninguém escreve como um gênio, se primeiro não aprender a ler.

 Os capítulos se dividem em: Leitura atenta/Palavras/Frases/Parágrafos/Narração/Personagem/Diálogo/Detalhes/Gesto/Aprendendo com Tchekhov/Ler em busca de coragem. Há uma lista de livros para ler imediatamente, uma entrevista com a autora e o posfácio de Ítalo, seguido de uma lista de livros brasileiros para ler imediatamente. Mas listas são listas, vale para quem as fez, não para quem as lê.

O posfácio de Ítalo é especialmente interessante porque ele trata especificamente da literatura brasileira e em especial da Crônica, o grande gênero literário nacional por excelência e ao qual a maioria de nós, os escritores não profissionais ou semi profissionais se dedica. Vale à pena ler o livro como um todo, tê-lo como material de referência, mas vale à pena lê-lo principalmente pelos dois últimos capítulos e pelo posfácio. Mas não é um livro para pedir emprestado, é um livro para ter. 
 

Maria Olímpia Alves de Melo/ janeiro de 2010