BALADAS, PALAVRAS e OUTONOS

A Editora Diário Oficial do Estado de Sergipe lança o livro (com recursos de multimídia) BALADAS, PALAVRAS e OUTONOS, reunindo poemas de três mulheres, poetas renomadas: Carmelita Pinto Fontes, da cidade de Laranjeiras; Gizelda Santana Morais, de Campo do Brito e Núbia Marques, de Aracaju.

Carmelita, autora de poesia e prosa, além da produção para o teatro infantil, fundadora da Academia de Letras dos Jovens Escritores; professora titular de Língua Portuguesa e Estilística na UFS, Imortal da Academia Sergipana de Letras.

Estudei (na UFS) as duas disciplinas citadas acima sob a regência da professora Carmelita. E já havia sido sua aluna no Colégio Estadual de Sergipe. O que mais me chamou a atenção foi a diferença que a laranjeirense imprimia às suas aulas de Língua Portuguesa. Longe dela estava aquela preleção insuportável sobre as regras gramaticais. Trabalhava no texto, esmiuçando-lhe, mostrando perspectivas, abordagens, possibilidades. E a norma gramatical caminhava na retaguarda, obedecendo ao comando da mestra. E só tinha o direito de aparecer quando, majestosa, Carmelita a convocava. Também pudera! Uma poeta jamais se dedicaria ao ensino seco e impiedoso da norma pela norma. A rainha dos versos sergipanos com sabor universal usava e abusava dos textos poéticos. Que delícia suas aulas! E falava tão bonito, suave, mansamente. Falava poeticamente. Referia-se aos poetas como se fossem todos seus amigos íntimos, daqueles que nem precisam avisar ou ligar para um chá em sua companhia. Insubstituível Carmelita!

De Gizelda Morais, também Imortal da ASL, eu tenho a lembrança de que minha mãe conhecia a sua família. Eu, ainda menina, via aquela mulher de fisionomia de artista de filmes franceses. E ouvia intelectuais se reportando a excelência de sua poesia e ao reconhecimento de seu valor no país e fora dele. E não me saem da memória os versos de Gizelda: “Meus braços são horizontais,/mas se eu te perder,/eles não se erguerão jamais e/serão eternamente verticais.”

Núbia Marques, outra Acadêmica da ASL, era a figura dos meios intelectuais de Sergipe ali pelos anos 60. Mulher alegre, lutadora pelos direitos femininos, ativista política, renovadora. A primeira mulher a ocupar uma cadeira na ASL. Faz dez anos que Núbia saiu para um passeio e deve estar promovendo saraus aí pelo espaço sideral. Beijos, Binha!

Como diriam os amantes do futebol, o Estado de Sergipe, representado por suas autoridades maiores, “marca um golaço, gol de placa”, dando esse presente ao público intelectual. Vale ainda ressaltar a beleza das interpretações contidas em dois CDs de significativo trato artístico nos quais os poemas são interpretados por atrizes do cenário teatral sergipano.

Lanço sobre meus leitores pétalas de poesia das três sergipanas:

O médico (Carmelita) _ poema dedicado ao Dr. José Augusto Santos Barreto _

ele entra

e a cama é uma cela

onde a vida se concentra

entre a busca e a resposta

que vagueia

a palavra escureceu

nos lábios e no peito

sem retórica

(...)

Profissão de fé (Gizelda)

em nome do pai

que me criou

que me gerou

no seio de minha mãe

em nome do filho

dos meus filhos

abortados

mortos cada mês

do meu sangue

sacrificado

(...)

Fé no ofício (Núbia)

(...)

sou poeta que faço

do laço o traço

do cuspe o rastro

do passo o arregaço

do sobejo o farelo

do travo o trevo

do amargo viver

a cada instante

sou poeta

mais nada.