Resenha Crítica do Livro Café Com Eficiência

O livro CAFÉ COM EFICIÊNCIA, de Chuck Martin (tradução de Cintia Braga), 110 páginas; Rio de Janeiro: Sextante, 2008 é uma obra de auto-ajuda voltada para profissionais que sacrificam a maior parte de seu tempo tentando colocar as obrigações em dia e mal têm tempo para a sua vida pessoal, seja entre família ou amigos. O autor usa uma linguagem de fácil compreensão mostrando a difícil, mas essencial tarefa de manter o equilíbrio entre a vida profissional e a vida pessoal sem deixar de ser eficiente naquilo que faz.

Narra a história de Bill Taylor, um funcionário em ascensão da empresa UniShare Technologies que recebeu uma oferta para dirigir uma nova aquisição do grupo, uma pequena unidade de desenvolvimento de softwares em Cambridge. Bill, na tentativa de dar o seu melhor pela empresa, trabalha arduamente até altas horas da noite, sábados, domingos e feriados, mas mesmo assim, a unidade não produzia o esperado. Ele foi apresentado então, ao Professor que lhe ensinou em três lições, “Descubra”, “Mude” e “Passe Adiante”, como poder parar em alguns momentos e mesmo assim manter-se eficiente e produtivo.

Para entender melhor a narrativa, é necessário saber que a história começa com Bill recebendo um telefonema de Walter, seu amigo de infância pedindo-lhe ajuda, pois seu gerente foi demitido e ele assumiria o cargo que considerava de risco, já que o departamento estava em situação crítica. Walter resolveu pedir ajuda a Bill, pois notou que mesmo após a promoção e, conseqüentemente mais responsabilidades, Bill mantinha uma vida social descontraída e animada. Bill percebe que esse é o melhor momento para passar tudo que aprendeu e resolve explicar a mudança na sua vida a Walter, desde que ele comprometa-se a repassar para outros quando necessário.

A história de Bill começa com uma visita de seu chefe que o elogia bastante pelo seu desempenho e sua dedicação, mas revela que falta algo para ele ser um exímio funcionário. Bill fica irritado com a conversa e perde todo o seu fim de semana por causa dela. Ele não consegue acreditar como tanto empenho, dedicação e prontidão podem resultar em desvalorização profissional. No entanto, para sua surpresa, Bill acaba sendo promovido a diretor de uma nova e pequena unidade do grupo. Ele se sente perdido, mas lisonjeado pela promoção, sabendo que ali estava uma grande chance de crescimento profissional, ele aumenta ainda mais a carga de trabalho para fazer a pequena unidade, que não estava muito produtiva, crescer e se tornar uma unidade rentável. Bill tinha tanta preocupação com os números e em alcançar os resultados esperados pela empresa que nem pensava em sua equipe.

O autor procura mostrar como alguns administradores tentam atingir os objetivos sem pensar nos seus colaboradores que são peças fundamentais no desempenho de uma empresa. Bill tinha com ele três gerentes que, mesmo estando cientes da ausência do diretor, eram bastante dedicados e conhecedores de toda a empresa: Michael, que estava na empresa desde o começo e gostaria de ter o cargo de Bill; Stephanie, que estava a pouco tempo, mas seu poder de organização e dedicação impressionou a todos,Bill gostava dela mesmo com os seus constantes atrasos; e Ronald, um tipo meio aéreo e sempre impontual que descordava de todas as decisões que vinham da presidência. Essas pessoas eram consideradas chaves e tentavam manter a ligação entre a diretoria e os funcionários que, depois de dois meses, ainda não tinham ouvido uma palavra do novo diretor.

No terceiro mês como diretor, Bill recebe a ligação do vice-presidente e expõe ao mesmo que não conseguiria atingir as metas estabelecidas, mesmo se dedicando em quase 100% do seu tempo. Então, a empresa resolve enviar o Professor para ensiná-lo boas lições de comportamento que já havia ensinado a toda diretoria.

A primeira coisa que o Professor fez quando conheceu Bill foi parar para um café. Bill ficou surpreso, ele estava desesperado, louco para atingir as suas metas, querendo conhecer os métodos do Professor e ele resolve parar para um café. O pensamento de Bill resumia-se a duas perguntas naquele momento: Como isso pode estar acontecendo? O que esse Professor está fazendo? O que Bill não sabia era que essa parada já fazia parte do aprendizado, pois em alguns casos só parando e saindo do problema para ver a situação como um todo e saber como recomeçar. Nessas paradas, o Professor passou para Bill os três segredos para o sucesso que o ajudariam em seu desenvolvimento.

O primeiro segredo era descobrir tudo que estava acontecendo em sua volta, mas para isso ele deveria parar, só assim poderia ver o que estava se passando ao seu redor . Para descobrir é preciso ter tempo para procurar, pois ele precisaria “parar”, “olhar” e “escutar”. Bill confessa que nunca tinha feito essa análise e que realmente precisava descobrir o que se passa em sua volta e, ao começar a fazer isso, descobre que Stephanie chegava tarde por causa de consultas médicas, que Michael tinha vários projetos urgentes em curso e que Ronald tem mestrado, é muito inteligente e criou o produto mais bem-sucedido da empresa. Porém, Bill faz isso de forma evasiva, quer dizer, não se aprofunda nos problemas de cada um, faltou olhar e escutar o que os seus gerentes tinham mais a dizer. Fazendo isso, Bill descobre ainda que o problema de saúde de Stephanie, na verdade era de sua filha com leucemia e que lhe tomava muito tempo, pois ela era viúva há dois anos. Descobriu também que Michael faz o trabalho de quatro pessoas e que seria impossível cumprir os prazos de qualquer um deles. Já o Ronald, é uma pessoa brilhante e que merecia uma recompensa por tudo que fez pela empresa.

O segundo segredo que o Professor resolve revelar ao Bill chama-se Mudar. O Professor explica de uma maneira simples e direta a ligação entre stress profissional, inflexibilidade, crise e desempenho. Como pequenas mudanças podem fazer alterações positivas e que cada pequeno avanço na atitude inspira na busca pelo aperfeiçoamento profissional nas pessoas ao seu redor. Para evitar isso, o Professor aconselha Bill a procurar sinais de stress nos funcionários e ao encontrá-los, buscar alternativas para mudar e minimizar o problema. Outra pequena atitude que o Professor ensina a Bill e que certamente é fundamental para o desempenho de uma equipe é o agradecimento. Dizer obrigado, na maioria das vezes, é a melhor retribuição que um funcionário pode ter. Um “Obrigado” por cada tarefa executada faz com que o funcionário sinta-se mais valorizado do que uma promoção por ano. Não que o reconhecimento financeiro não seja importante, mas o valor de um agradecimento pelos bons serviços é incontestável. Bill, após receber essa segunda lição, resolve partir para as mudanças. A sua primeira ação é flexibilizar o horário de Stephanie para que fique mais tempo com a sua filha, permitindo que ela trabalhe em casa alguns dias da semana. Michael, muito atarefado, dividiria seus afazeres com seu principal assistente e Ronald receberia um agradecimento oficial da empresa e a oportunidade de participar das reuniões com os diretores, assim ele poderia expressar sua opinião ao invés de descartar as mudanças diretamente. A última pequena atitude passada pelo professor é a continuidade e o comprometimento com as mudanças, ou seja, o compromisso com o aperfeiçoamento posto em prática. De nada vale mudar, se não existir compromisso com a mudança, pois isso acontecendo, pode ter um resultado reverso, ou seja, ao invés de motivar a equipe, o profissional ficará mais desmotivado perdendo a confiança no seu líder.

A terceira e a mais importante lição, segundo o Professor é Passar Adiante, ou seja, é reunir a equipe e comunicar de maneira bem clara todas as mudanças, o seu aprendizado e como isso afetou em sua vida pessoal e profissional. Fazendo isso com sinceridade, as pessoas logo notarão e terão mais comprometimento com as suas atitudes de líder. Esse comprometimento se espalha para todos à medida que mais pessoas passem adiante o aprendizado. Dessa maneira, toda equipe muda e o resultado positivo nos objetivos será alcançado automaticamente. Se cada membro da equipe receber a lição aprendida por Bill – parar, observar, mudar – significa que todos os funcionários verão o que está errado em suas atividades e onde se pode melhorar. Isso certamente trará um aumento na produtividade, já que atividades inúteis ou sem valor agregado serão descartadas. Uma filosofia de vida simples e bem explicativa passada pelo Professor é que “uma única pessoa pode fazer a diferença. Duas podem fazer mais diferença ainda. Um grupo inteiro pode fazer uma enorme diferença.” Bill resolveu passar para os seus três gerentes tudo que aprendeu e usou o mesmo método do Professor, marcou um encontro para tomar um café e contou toda a sua história com bastante sinceridade. Ele percebeu que o grupo entendeu o que ele havia dito e que se sentiam da mesma maneira. Os três confessaram que a mudança que Bill fez foi fundamental na vida deles. Michael diz que está agora menos sobrecarregado e consegue entregar seus serviços em dia, além de dar uma chance ao seu melhor assistente. Ronald ficou muito feliz por ser homenageado e descobriu após participação nas reuniões da diretoria que ela não era tão burra como ele imaginava. Stephanie se sentia muito agradecida por poder ficar mais tempo com sua filha trabalhando alguns dias em casa e que isso não prejudicou em nada seu desempenho. A reação do grupo foi positiva, pois Bill foi sincero e isso fez com que eles assimilassem o aprendizado que certamente colocariam logo em prática. Aproveitando o momento, o grupo já começa a discutir novas mudanças, tais como, diminuir a quantidade de reuniões, promoverem algumas pessoas, distribuir mais o trabalho, entre outras. Essas atitudes afetariam agora todo o grupo de trabalho, ou seja, já começaram a passar adiante.

Depois de um tempo, toda a unidade estava “contagiada” pelas lições do Professor. A mudança era clara nos rostos e nas atitudes de todos os funcionários e, em alguns casos, até mesmo na vida pessoal, pois era impossível deixar essas lições somente na vida profissional. Sempre que um funcionário fugia à regra, era colocada na sua frente uma placa com os dizeres “PARE” e no verso “PASSE ADIANTE”, o funcionário logo notava e imediatamente mudava de atitude. No entanto, depois de certo tempo, essa placa ficou parada no canto da sala sem necessidade de uso, essa era a prova da mudança corporativa. Bill se sentia feliz e a sua família também, pois ele tinha mais tempo para dedicar a sua esposa e seu filho.

Interessante dizer, que no final de toda essa melhoria, Bill descobre que o Professor era nada mais nada menos o dono da empresa que resolveu sair da liderança e dedicar-se ao crescimento profissional de seus empregados. E que seu amigo Walter também gostou da história e vai colocá-la em prática assim que assumir o cargo de gerência.

Essa obra é destinada aos profissionais que não conseguem separar a vida profissional e pessoal. O livro mostra de uma maneira até repetitiva, como um profissional pode administrar a sua empresa sem sobrecarga e ter, ao mesmo tempo, uma vida familiar harmoniosa e saudável. As exigências do mundo atual fazem com que o profissional sinta-se cada vez mais pressionado, passando a ter atitudes que afetarão todos a sua volta. O autor mostra em uma linguagem clara, uma maneira prática e inteligente de mudança. O fato de se parar e ver o que está acontecendo em sua volta é muito difícil na correria do dia-a-dia, mas permite ver onde deve ser melhorado. Porém, nada adianta parar e ver o que deve ser melhorado e não colocar isso em prática é necessário mudar. E a necessidade de mudar, de adotar novas posturas e atitudes é tão latente em determinados momentos, que o próprio dono da empresa sai de sua zona de conforto, pois poderia muito bem contratar uma consultoria e treinamento para orientar Bill, provando que suas três lições têm um valor verdadeiro, ele próprio coloca em prática o que ensinou ao seu novo gerente. Essa atitude de começar as modificações pelo topo da pirâmide funcional (presidência, vice-presidência, diretoria, gerência,...) é um tanto ousada e eficaz para os problemas destacados na narrativa de Chuck Martin.

A última lição é realmente a mais importante de todas, pois “uma andorinha só não faz verão”. Após uma mudança de atitude é preciso passá-la adiante para que todos mudem e o resultado final seja satisfatório. Se cada um fizer a sua parte, certamente o ambiente de trabalho melhorará e os resultados procurados serão obtidos facilmente.

O livro tem uma abordagem contemporânea. A situação que ele narra é muito comum nos dias de hoje, onde os profissionais não conseguem gerenciar o tempo e se comprometem cada vez mais com metas impossíveis de serem alcançadas e tendo cada vez menos tempo para atingi-las.

A leitura é muito fácil e rápida, ratificando o que o autor mesmo propõe, é um livro para quem quer e ou deve mudar, mas que não tem tempo a perder. No entanto, ele não se aprofunda em técnicas de administração do tempo e planejamento de tarefas. Portanto, para aqueles que desejam inteirar-se mais no assunto, é aconselhável pesquisar por literaturas que abordam esses temas com maior nível de detalhamento.