Utopia
O mito do Eden
Na prática da maçonaria está latente a idéia da utopia, ordem social e política perfeita, sonhada por vários poetas, filósofos e humanistas, tais como Platão, Tomas Mórus, Tomasso Campanella, Giordano Bruno, François Rabelais, Voltaire, John Milton, etc.
Os mitos da Atlântida, Lemúria, Shangri-lá, os Campos Elísios, o Paraíso dos cristãos e dos muculmanos, etc. também são ecos dessa maravilhosa esperança.
O Éden bíblico e a própria nação de Israel, com sua cultura kitsch e fundamentada nos princípios da Irmandade, igualmente pode ser considerada uma faceta desse estado de ordem, harmonia e felicidade com o qual o espírito humano sempre sonhou.
Esse estado ideal é um arquétipo que existe no inconsciente coletivo da humanidade desde os primórdios da civilização. Remanesce como lenda em praticamente todas as literaturas sagradas da maioria dos povos antigos.
A idéia é que tal estado existiu um dia, talvez antes mesmo do advento da nossa civilização, e foi destruído por alguma razão. Em algumas crenças, como a cristã, por exemplo, se acredita que esse estado foi perdido em conseqüência de um erro ( ou pecado) cometido pelo ser humano.
Por isso é que os homem inventaram a religião ( que quer dizer religar), como uma forma de reconduzir a espécie humana à esse estado de beatitude perdida.
Nossos Mestres mais antigos acreditavam que esse estado de harmonia, felicidade e paz poderia ser atingido pelo trabalho consciente e eficaz das pessoas de boa vontade, pois eles viam o mundo como um grande edifício que pode ser construído diariamente por cada uma das criaturas humanas, nas ações que executa na vida.
Por isso, da mesma forma que a paz e a harmonia reinavam nos céus, na Fraternidade que congregava os anjos (ou deuses), esse estado deveria existir na terra, com os homens reunidos em uma grande Irmandade.(1)
O ensinamento da Cabala
A Cabala nos ensina que antes do homem da terra ser criado, como reflexo do homem celestial, existiram quatro mundos primordiais que foram destruídos por causa do desequilíbrio energético que neles se instalou como resultado da revolta dos querubins. Esses mundos eram chamados de Atzitoth (mundo das emanações) Briah (mundo da criacão), Yetzirah (mundo dos anjos), Assiath (mundo da matéria).
Na tradução literal da Bíblia os quatro mundos da Cabala são referidos como os quatro reis de Edom, que viveram nos tempos antigos, antes da formação de Israel e foram derrotados pelos hebreus na conquista da terra palestina. Eles “lutam contra Israel”, pois este, como povo escolhido, é uma alegoria que significa uma tentativa do G\ A \ D \ U\ de reorganizar a espécie humana, através de um modelo de virtude, dirigido por ele mesmo.
Nesse caso,a Israel bíblica, como Assembléia perfeita (Loja), sagrada, formada por Ele próprio, seria um arquétipo que permitiria o reencontro do equilíbrio perdido com a destruição desses antigos mundos. (2)
Maat
No Antigo Egito, por exemplo, a idéia de um estado de perfeita ordem e harmonia estava embutida no culto à deusa Maat, a deusa da justiça e da retidão de caráter.
Acreditava-se que essa divindade era a mediadora entre as potências do céu e da terra. Ela regulava as relações entre os deuses, estabelecendo a harmonia entre eles, e entre os homens, fazendo com que eles vivessem em paz e em união. Por isso, todos os homens de responsabilidade na sociedade egípcia deviam viver de acordo com a Maat, ou seja, viver de acordo com rigorosos princípios religiosos e morais, vivendo uma vida justa e perfeita, em todos os sentidos.
Falhar em viver segundo esses princípios implicava em ser julgado com muita severidade no chamado Salão de Maat ( o Tribunal presidido pelo deus Osíris, onde as almas dos mortos eram julgadas), ao passo que aqueles que viveram suas vidas de acordo com essas regras eram conduzidos por aquele deus através da Tuat, ( a terra da escuridão) até o outro lado, onde recebiam a Luz de Rá O sol radiante) e se integravam à luz que emanava daquele deus.
Na iconografia egípcia, a deusa Maat aparecia como sendo a esposa, ou a parte feminina do deus Thoth, que com ele veio ao mundo quando as águas do abismo primitivo se abriram pela primeira vez. Seu símbolo era uma pena, que representava a leveza de alma que devia caracterizar todo aquele que ambicionava atingir a iluminação.
Nos tempos mais antigos do Egito, o nome dessa deusa estava conectada também com os artesãos ( que deveriam fazer obras com perfeição, o que justifica o apreço com que o termo Maat é usado na simbologia maçônica. Os egípcios usavam o termo de uma forma moral e espiritual, significando direito, verdade, lealdade, honestidade, retidão, caráter, justiça, probidade, etc. (3)
Carma
São essas ações Maat que instruem os processos cármicos a que estão submetidas todas as almas que nascem no mundo, e nos dão como resultado uma sentença de mérito ou demérito, cuja aplicação reflete em nossas existências orgânicas e espirituais, fazendo de nós criaturas mais ou menos afortunadas, que evoluem ou regridem numa escalada sempre ascendente.
Esse processo tem como meta um aperfeiçoamento constante das nossas qualidades e virtudes, até um ponto onde possamos transcender da nossa condição de meros seres humanos para uma esfera mais sutil da realidade cósmica. Esse é o sentido da nossa escalada da matéria para o espírito e a finalidade de toda a vida.
Carma, palavra sânscrita que significa ação, na filosofia do hinduísmo designa o conjunto de ações e conseqüências que determinam o curso da existência das pessoas sobre a terra. Aqui é entendido como sendo a fórmula segundo a qual o próprio processo da vida se desenvolve.
Seria, destarte, a forma pela qual o espírito humano trabalha para realizar o seu aperfeiçoamento. Algumas religiões admitem que esse processo se desenvolve através de sucessivas reencarnações, nas quais o nosso espírito acumula experiências e vai se aprimorando. Outras confissões, mais pragmáticas, vêem nesse processo o aprimoramento do caráter humano, fazendo de nós criaturas mais dignas e conscientes de sua missão cósmica. (4)
Uma das mais elaboradas concepções desse processo foi desenvolvida pelo filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin, que vê nele uma“ jornada ascendente e vertical” do espírito humano, que começa na matéria orgânica mais elementar e vai se compondo, em camadas cada vez mais complexas de organização, até um ponto máximo, transcendente, que se consuma na Realidade Última da realização universal, que é o Ponto Omega,( simbolizado pela personalidade de Cristo, modelo da perfeição espiritual). (5)
Não é toa que a Maçonaria, em sua face espiritualista, que nas suas mais antigas concepções se fundamenta nos Antigos Mistérios, a partir de certo ponto, passa a trabalhar com conceitos cristãos. Na verdade, o Cristianismo, se tomado na sua primitiva pureza, é um modelo altamente espiritualizado dessas antigas concep-ções e o Cristo, na verdade, é o corolário de todas as manifestações do espírito humano na sua procura por aperfeiçoamento.
( continua)
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1. Veja-se a nossa obra Conhecendo a Arte Real, citada.
2. Veja-se Knorr Von Rosenroth-A Kabballah Revelada, Madras , S.Paulo, 200. Veja-se também a nossa obra Conhecendo a Arte Real, citada.
3. A moderna Gnose vê as alegorias e o simbolismo da Cabala como analogias do processo físico-atômico-quântico que gera o universo. Nesse sentido a árvore sefirótica, concepção cabalista que expressa a idéia mística de como o universo é construído através das emanações das séforas, é uma energia cósmica que cria uma rede de relações que vão se interando, formando o mundo material e o mundo espiritual. A Cabala ensina que antes da queda, os Elohins formavam uma grande Fraternidade de obreiros, cuja missão era construir o universo que o GADU tinha em mente. Eles se reuniam nos moldes de uma Loja Maçônica. Depois da queda eles foram dispersos pelo mundo e muitos deles se tornaram demônios, como Plutão, Satã, Lúcifer, Sethi, etc.. Outros se tornaram os heróis que a humanidade cultuou como semideuses ( Hércules, Teseu, Gilgamés, Perseu, Arjuna, etc) ou mesmo deuses, que como Hermes, Osíris, Mitra, Jesus, etc. desceram a terra para civilizar, ou salvar os homens
4,Cf. E G. Budge- Os Deuses Egpcios- Vol I- Londres, 1925 Veja-se também a nossa obra “´Conhecendo a Arte Real”, citada
5.Pierre Teilhard de Chardin- O Fenômeno Humano, Cultrix São Paulo, 1985
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DE O ILUMINISMO MAÇÔNICO, OBRA A SER PUBLICADA EM 2010
O mito do Eden
Na prática da maçonaria está latente a idéia da utopia, ordem social e política perfeita, sonhada por vários poetas, filósofos e humanistas, tais como Platão, Tomas Mórus, Tomasso Campanella, Giordano Bruno, François Rabelais, Voltaire, John Milton, etc.
Os mitos da Atlântida, Lemúria, Shangri-lá, os Campos Elísios, o Paraíso dos cristãos e dos muculmanos, etc. também são ecos dessa maravilhosa esperança.
O Éden bíblico e a própria nação de Israel, com sua cultura kitsch e fundamentada nos princípios da Irmandade, igualmente pode ser considerada uma faceta desse estado de ordem, harmonia e felicidade com o qual o espírito humano sempre sonhou.
Esse estado ideal é um arquétipo que existe no inconsciente coletivo da humanidade desde os primórdios da civilização. Remanesce como lenda em praticamente todas as literaturas sagradas da maioria dos povos antigos.
A idéia é que tal estado existiu um dia, talvez antes mesmo do advento da nossa civilização, e foi destruído por alguma razão. Em algumas crenças, como a cristã, por exemplo, se acredita que esse estado foi perdido em conseqüência de um erro ( ou pecado) cometido pelo ser humano.
Por isso é que os homem inventaram a religião ( que quer dizer religar), como uma forma de reconduzir a espécie humana à esse estado de beatitude perdida.
Nossos Mestres mais antigos acreditavam que esse estado de harmonia, felicidade e paz poderia ser atingido pelo trabalho consciente e eficaz das pessoas de boa vontade, pois eles viam o mundo como um grande edifício que pode ser construído diariamente por cada uma das criaturas humanas, nas ações que executa na vida.
Por isso, da mesma forma que a paz e a harmonia reinavam nos céus, na Fraternidade que congregava os anjos (ou deuses), esse estado deveria existir na terra, com os homens reunidos em uma grande Irmandade.(1)
O ensinamento da Cabala
A Cabala nos ensina que antes do homem da terra ser criado, como reflexo do homem celestial, existiram quatro mundos primordiais que foram destruídos por causa do desequilíbrio energético que neles se instalou como resultado da revolta dos querubins. Esses mundos eram chamados de Atzitoth (mundo das emanações) Briah (mundo da criacão), Yetzirah (mundo dos anjos), Assiath (mundo da matéria).
Na tradução literal da Bíblia os quatro mundos da Cabala são referidos como os quatro reis de Edom, que viveram nos tempos antigos, antes da formação de Israel e foram derrotados pelos hebreus na conquista da terra palestina. Eles “lutam contra Israel”, pois este, como povo escolhido, é uma alegoria que significa uma tentativa do G\ A \ D \ U\ de reorganizar a espécie humana, através de um modelo de virtude, dirigido por ele mesmo.
Nesse caso,a Israel bíblica, como Assembléia perfeita (Loja), sagrada, formada por Ele próprio, seria um arquétipo que permitiria o reencontro do equilíbrio perdido com a destruição desses antigos mundos. (2)
Maat
No Antigo Egito, por exemplo, a idéia de um estado de perfeita ordem e harmonia estava embutida no culto à deusa Maat, a deusa da justiça e da retidão de caráter.
Acreditava-se que essa divindade era a mediadora entre as potências do céu e da terra. Ela regulava as relações entre os deuses, estabelecendo a harmonia entre eles, e entre os homens, fazendo com que eles vivessem em paz e em união. Por isso, todos os homens de responsabilidade na sociedade egípcia deviam viver de acordo com a Maat, ou seja, viver de acordo com rigorosos princípios religiosos e morais, vivendo uma vida justa e perfeita, em todos os sentidos.
Falhar em viver segundo esses princípios implicava em ser julgado com muita severidade no chamado Salão de Maat ( o Tribunal presidido pelo deus Osíris, onde as almas dos mortos eram julgadas), ao passo que aqueles que viveram suas vidas de acordo com essas regras eram conduzidos por aquele deus através da Tuat, ( a terra da escuridão) até o outro lado, onde recebiam a Luz de Rá O sol radiante) e se integravam à luz que emanava daquele deus.
Na iconografia egípcia, a deusa Maat aparecia como sendo a esposa, ou a parte feminina do deus Thoth, que com ele veio ao mundo quando as águas do abismo primitivo se abriram pela primeira vez. Seu símbolo era uma pena, que representava a leveza de alma que devia caracterizar todo aquele que ambicionava atingir a iluminação.
Nos tempos mais antigos do Egito, o nome dessa deusa estava conectada também com os artesãos ( que deveriam fazer obras com perfeição, o que justifica o apreço com que o termo Maat é usado na simbologia maçônica. Os egípcios usavam o termo de uma forma moral e espiritual, significando direito, verdade, lealdade, honestidade, retidão, caráter, justiça, probidade, etc. (3)
Carma
São essas ações Maat que instruem os processos cármicos a que estão submetidas todas as almas que nascem no mundo, e nos dão como resultado uma sentença de mérito ou demérito, cuja aplicação reflete em nossas existências orgânicas e espirituais, fazendo de nós criaturas mais ou menos afortunadas, que evoluem ou regridem numa escalada sempre ascendente.
Esse processo tem como meta um aperfeiçoamento constante das nossas qualidades e virtudes, até um ponto onde possamos transcender da nossa condição de meros seres humanos para uma esfera mais sutil da realidade cósmica. Esse é o sentido da nossa escalada da matéria para o espírito e a finalidade de toda a vida.
Carma, palavra sânscrita que significa ação, na filosofia do hinduísmo designa o conjunto de ações e conseqüências que determinam o curso da existência das pessoas sobre a terra. Aqui é entendido como sendo a fórmula segundo a qual o próprio processo da vida se desenvolve.
Seria, destarte, a forma pela qual o espírito humano trabalha para realizar o seu aperfeiçoamento. Algumas religiões admitem que esse processo se desenvolve através de sucessivas reencarnações, nas quais o nosso espírito acumula experiências e vai se aprimorando. Outras confissões, mais pragmáticas, vêem nesse processo o aprimoramento do caráter humano, fazendo de nós criaturas mais dignas e conscientes de sua missão cósmica. (4)
Uma das mais elaboradas concepções desse processo foi desenvolvida pelo filósofo francês Pierre Teilhard de Chardin, que vê nele uma“ jornada ascendente e vertical” do espírito humano, que começa na matéria orgânica mais elementar e vai se compondo, em camadas cada vez mais complexas de organização, até um ponto máximo, transcendente, que se consuma na Realidade Última da realização universal, que é o Ponto Omega,( simbolizado pela personalidade de Cristo, modelo da perfeição espiritual). (5)
Não é toa que a Maçonaria, em sua face espiritualista, que nas suas mais antigas concepções se fundamenta nos Antigos Mistérios, a partir de certo ponto, passa a trabalhar com conceitos cristãos. Na verdade, o Cristianismo, se tomado na sua primitiva pureza, é um modelo altamente espiritualizado dessas antigas concep-ções e o Cristo, na verdade, é o corolário de todas as manifestações do espírito humano na sua procura por aperfeiçoamento.
( continua)
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1. Veja-se a nossa obra Conhecendo a Arte Real, citada.
2. Veja-se Knorr Von Rosenroth-A Kabballah Revelada, Madras , S.Paulo, 200. Veja-se também a nossa obra Conhecendo a Arte Real, citada.
3. A moderna Gnose vê as alegorias e o simbolismo da Cabala como analogias do processo físico-atômico-quântico que gera o universo. Nesse sentido a árvore sefirótica, concepção cabalista que expressa a idéia mística de como o universo é construído através das emanações das séforas, é uma energia cósmica que cria uma rede de relações que vão se interando, formando o mundo material e o mundo espiritual. A Cabala ensina que antes da queda, os Elohins formavam uma grande Fraternidade de obreiros, cuja missão era construir o universo que o GADU tinha em mente. Eles se reuniam nos moldes de uma Loja Maçônica. Depois da queda eles foram dispersos pelo mundo e muitos deles se tornaram demônios, como Plutão, Satã, Lúcifer, Sethi, etc.. Outros se tornaram os heróis que a humanidade cultuou como semideuses ( Hércules, Teseu, Gilgamés, Perseu, Arjuna, etc) ou mesmo deuses, que como Hermes, Osíris, Mitra, Jesus, etc. desceram a terra para civilizar, ou salvar os homens
4,Cf. E G. Budge- Os Deuses Egpcios- Vol I- Londres, 1925 Veja-se também a nossa obra “´Conhecendo a Arte Real”, citada
5.Pierre Teilhard de Chardin- O Fenômeno Humano, Cultrix São Paulo, 1985
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DE O ILUMINISMO MAÇÔNICO, OBRA A SER PUBLICADA EM 2010