As mulheres de meu pai – José Eduardo Agualusa
Tenho tido sorte: os livros que escolhem serem lidos por mim ultimamente estão sendo ótimos. Esse, foi o título que chamou a minha atenção. Fiquei pensando assim, por mim e por muita gente que conheço: todos os filhos poderiam escrever esse livro.
O autor é José Eduardo Agualusa. Angolano, com relações no Brasil. É um romance, onde realidade e ficção se misturam.
A história é simples, mas a estrutura é complexa. Vários narradores se alternam e embora a linguagem seja accessível ( apesar de não ser o português brasileiro) as vezes eu me perdia até descobrir quem estava narrando.
Gostei por várias razões: conhecer um pouco mais da realidade africana e entrar em contato com a riqueza da diversidade da língua portuguesa. E além do mais a prosa de Agualusa é muito bonita – se parece com o seu nome: agualusa é o nome que se dá em Portugal a um organismo unicelular que brilha no escuro. Bom, na verdade eu não entendi bem se agualusa é o nome do organismo ou se é a luminescência que ele provoca. A conferir. O dicionário está longe de mim e eu estou com preguiça de ir buscá-lo. Também estou com sono.
Agualusa escreveu a história enquanto viajava por Angola, Namíbia, Moçambique e África do Sul. Daí veio a solução que encontrou para o romance: enquanto narrava sobre a viagem ia também inserindo a história ficcional de tal forma que eu nunca tinha certeza do que era fato e do que era ficção. Acabei tendo que consultar o Google para definir algumas situações.
Faustino Manso, famoso compositor angolano, deixou ao morrer sete viúvas e dezoito filhos. A mais nova, Laurentina, se descobre filha do compositor exatamente na ocasião de sua morte: e parte, com o namorado, para o enterro. Lá ela resolve pesquisar a vida do pai que não chegara a conhecer – afinal, era diretora de cinema e cinegrafista. Parte então em busca das mulheres de seu pai, inclusive da própria mãe biológica. E a sua caravana se vê aumentada. Figuras fascinantes vão surgindo pelo caminho com destaque para Baltazar e Pouca Sorte, que a semelhança de Lau e do namorado, Mandume, narram a história. Bem como o próprio autor. O epílogo é surpreendente. Melhor dizendo: circular. E há uma pergunta sem resposta: De quantas verdades se faz uma mentira? Bem, quem quiser encontrar a resposta ...é só fazer o que fiz: ler o livro.