A Elegância do ouriço – Muriel Barbery
Muriel Barbery é uma autora francesa da qual eu nunca havia ouvido falar. A elegância do ouriço um livro que eu não compraria, nem pelo título nem pela capa. Não consigo nem mesmo lembrar como ele chegou até a mim: se ganhei ou comprei. O caso é que ele está na minha estante há algum tempo e eu resolvi ler.
Duas protagonistas: Renée e Paloma. Duas narradoras: Renée e Paloma. A construção dessas duas personagens parece absurda. Renée é a concierge em um edifício com oito apartamentos onde moram ricaços parisienses. Paloma, que tem uma irmã que se chama Colombe, é uma menina de 12 anos, moradora em um desses apartamentos. Renée é uma viúva já na idade madura que se esforça para esconder não só a sua inteligência como também a sua vasta e sofisticada cultura. Paloma é uma menina superdotada, uma verdadeira filósofa que faz a mesma coisa: esconde que sabe mais do que a maioria das pessoas. Além disso, decide que ao completar 13 anos vai colocar fogo no prédio e se suicidar.
Zeladora com alto nível cultural e que exerce essa profissão há mais de duas décadas e que não quer ser mais do que isso é uma verdadeira aberração. Inconcebível. Menina de 12 anos cuja única preocupação é o sentido da vida também não parece real. No entanto essas duas personagens são tão bem construídas que aos poucos vão se entranhando em nossa mente e se tornando claramente coerente.
Renée tem um gato que se chama Leon em homenagem a Tolstoi. Ela é apaixonada por literatura russa. Tem uma única amiga, a faxineira portuguesa Manuela. Que se parece com uma rainha. Paloma não tem amigos. Solitária, ela se esconde. Para escrever seu diário onde descreve os movimentos do mundo. Para pensar seus pensamentos profundos. Um dia um dos moradores morre e a família vende o apartamento para um japonês: Kakuro Ozu. E é então que a incrível aventura começa.
Esse foi o vigésimo sétimo livro que li este ano e posso afirmar com poucas dúvidas: pode ser que eu consiga ler outro melhor. É até ridículo contar, mas lendo os pensamentos profundos de Paloma decidi ter os meus também. A vontade que sinto é de começar a ler o livro de novo, se bem que no começo até achei que não fosse gostar dele: eram pessoas improváveis demais.
É um romance filosófico. Penso que deve ser muito difícil escrever um romance filosófico, mas essa autora francesa de quarenta anos, professora de filosofia na Normandia o fez com maestria. É com leveza que trata de temas que deveriam ser caros a todos nós: o tempo e a eternidade, a arte e a beleza, a justiça e o amor. Quem se interessa por esses assuntos não pode deixar de ler porque lendo vamos revivendo as nossas próprias inquietações e pensando sobre elas. As aparências enganam, pensei de forma simplista, porque o que o livro nos traz é muito mais do que isso. Mas é uma delícia ver uma zeladora de um prédio chique habitado por pessoas sofisticadas e com mais finesse e conteúdo do que qualquer uma de suas patroas. Recomendo, ah, se recomendo!
Lavras, madrugada do dia 23 de maio de 2009.