Flores do Outono – Zuleika dos Reis
Elas existem, as Flores do Outono. São versos escritos pela sensibilidade ímpar de Zuleika dos Reis. Lê-los é sentir-se embalada pela brisa suave dos ventos. Chega-se a sentir o perfume sutil que emana das doces palavras que volteiam no espaço. É poesia, pura poesia. O encantamento vai tomando conta da alma, alimentando o espírito, convocando os sonhos para que se tornem presentes.
São poemas simples que se encerram em si mesmo e ao mesmo tempo se interligam em uma perfeita harmonia. A influência é oriental na forma e na essência. A natureza é a sua matéria. Opção feita pelo Tanka – estrutura de cinco versos (cinco/sete/cinco/sete/sete – trinta e uma sílabas) a quintilha acabou se perdendo e outras formas nascendo.
Professora de Português, formada em Letras pela USP tem outras obras publicadas: Poemas de Azul e Pedra (1984) e Espelhos em fuga (1989). Haicaísta premiada participa de As quatro estações (1991) e da Antologia do haicai latino-americano (1993). Sua poesia se encontra ainda no livro Natureza – berço do haicai, livro de referência para haicaísta e é apresentada por Nelly Novaes Coelho no Dicionário crítico de escritoras brasileiras de 2002.
Presente incalculável o trecho em prosa de onde a poesia não se ausenta: a poeta encerra o livro com brilhantismo nos brindando com as Reflexões de uma Ocidental onde recria a história da construção do seu livro, o Flores do Outono. E amanhã mesmo eu irei em busca de uma paineira esquecida na frente de uma velha casa de fazenda de onde muitos sonhos alçaram vôo e hoje estão perdidos. E como ela o faz em sua última página eu também digo com letras maiúsculas e em negrito: EU TE AMO, repetindo três vezes, uma para cada um dos pássaros que amaram essa paineira, mas partiram para longe dela. É para isso que serve a poesia e o livro de Zuleika fez aflorar em mim a sensibilidade do adeus.
Mas eu não posso encerrar essa resenha, escrita para que eu nunca me esqueça desse livro mágico, escrita para homenagear essa amiga que um dia será real, sem deixar aqui alguns de seus versos:
É tempo do fruto
não da flor. Sei que não sabes
mas eu sei. E sei
que eu envelheci. Quero apenas
ficar te olhando sem dor.
Lavras, outono de 2009