O Coração Andarilho de Nélida Piñon

Literatura: O Coração Andarilho de Nélida Piñon

Em entrevista a Felipe Machado e Ubiratan Brasil, a escritora fala sobre seu mais recente lançamento: o livro de memórias Coração Andarilho

Confira aqui transcrição de trechos dessa entrevista, publicada dia 09.04.2009, e assista aos vídeos na seção TV Estadão (www.estadao.com.br).

Por favor, não reproduza nem distribua o texto (se necessário, use um link para esta página) e tente não tirar quaisquer conclusões somente baseadas nos trechos aqui transcritos, para diminuir riscos de descontextualização. Em alguns pontos, eu não reproduzi fielmente o áudio. Tentei concentrar-me naquilo que mais me chamou a atenção.

A idéia dessa transcrição foi dar aos colegas escritores uma pitadinha do que foi essa gostosa entrevista com essa mulher brilhante, cheia de histórias -- interessantíssimas! -- para contar. Sugiro que vejam a entrevista completa (duas partes) no site do Estadão.

Boa leitura!

COMO OCORREU A SELEÇÃO DE MEMÓRIAS PARA O LIVRO

“De alguma maneira é uma seleção aleatória, pautada pelo mundo afetivo e pela certeza de que o quê eu desejava registrar era uma espécie de trajetória. A trajetória da menina, a trajetória da mulher, a trajetória da escritora, do ofício de criar, de narrar, a trajetória da brasileira, que no meu caso acho que tudo isso vai se somando. Agora, quando você tem uma vida intensa -- e já larga, e já longa! -- você não tem como cobrir a sua vida, só se você tivesse detido a sua vida no ar. Seria um diário, não seria memória. A memória em si, penso eu, é uma seleção do quê lhe ocorre ou do quê lhe convém contar, mas ao mesmo tempo também permite um enamoramento com o quê você está fazendo. Eu percebi, eu tenho a nítida sensação, do quanto a minha família -- a minha origem galega, espanhola -- foi fundamental para minha formação intelectual. Eu me dei conta, desde muito cedo, que eu sou uma mestiça, uma mulher de dupla cultura; dupla cultura que cada vez eu vejo mais que imbricou, uma tá colada na outra. Eu sou produto então já de uma cultura aglutinada. Uma coisa que eu não desejei foi falar, reverenciar conquistas, livros, prêmios... Isso, nada disso me interessou! Nem nomes famosos, nomes que eu fui conhecendo ao longo da vida, amigos. Eu comecei a viajar muito cedo e quis o destino que eu esbarrasse com pessoas excepcionais. Então, isso eu não quis. Era a intimidade da formação... Como é que uma pessoa se forma. Como é que uma pessoa vai consolidando os sentimentos e vai se surpreendendo com o ritmo da paixão. Como a paixão é cega, -- mas a paixão tem a sua didática, também -- Eu tinha essa pauta, esse registro: a Nélida menina. Também levando em conta que, eu imagino, a partir desse livro, tenho a sensação que fiquei com o horizonte muito mais amplo em relação à minha própria pessoa. Muito mais! Eu hoje seria capaz de fazer... -- claro que seria um outro livro! -- só que muito mais amplo, e com aspectos diferentes, porque a cada mês eu tenho a felicidade de ser afetada por cada dia.”

SENSAÇÃO DE TER SIDO A PRIMEIRA MULHER A PRESIDIR A ABL

“Olha, a coisa aconteceu com muita naturalidade. Eu não sou dada a grandes espantos na minha vida em relação às coisas eventualmente agradáveis e honrosas que me aconteceram. E digo por quê: Eu lutei tanto, que as coisas foram acontecendo como se elas ocorressem no tempo certo. Eu era da Academia e nunca imaginei que pudesse ser presidente, nem pleiteava, nem pretendia -- sobretudo uma mulher!

-- Como é que uma mulher... já fez muito em entrar na Academia, ainda vai ser presidente?! Tá querendo demais! (risos) Era perigoso, os homens acadêmicos não aceitariam (tom de brincadeira). Mas houve lá uma questão determinada que não vem ao caso esmiuçar e eu fui convocada...”

LITERATURA BRASILEIRA LÁ FORA

“Objetivamente falando, o Brasil ainda é... a nossa Literatura é periférica. Não tem dúvida! Não há uma curiosidade profunda do mundo editorial internacional em relação ao Brasil. Um nome ou outro que se destaca, mas não como um conjunto de força que pudesse impor uma certa definição estética, uma proposta estética. Eu acho o seguinte: eles não veem o Brasil como um país de grande produção intelectual -- A meu juízo! -- Vocês podem observar que Machado de Assis agora é que está entrando em vários paises. E eu me sinto muito honrada porque passei muitos anos de minha vida promovendo Machado de Assis. Eu sou uma promotora diária, constante de Machado. Inclusive, aquele famoso prólogo, da Susan Sontag, que saiu primeiro no New Yorker, eu acho que atribuo à minha pessoa porque nós fomos companheiras de um jurado americano, éramos as únicas duas mulheres do jurado e nós ficamos no campus, vizinhas, num chalezinho, e conversávamos muito, e ela ficou muito impressionada como eu estava um pouco a par da Literatura -- internacional e tudo! -- Eu disse: ‘É, mas ô Susan,’ -- me lembro perfeitamente, uma mulher brilhante! -- ‘eu vejo que é verdade isso. Eu realmente estou atualizada, mas Deus sabe como, porque é muito difícil para um brasileiro acompanhar o mundo. Mas eu devo lhe dizer o seguinte: você é uma apaixonada, nesse momento, pelo mundo, a Europa central, mas você não sabe que há um gênio excepcional no meu país.’ -- ‘Como?!’ -- ‘Olha, você nunca ouviu falar em Machado...’

(...)

Ela ficou com os olhos... -- Ou é essa mulher é louca... Mas eu acho que ela levou em conta! -- E ela começa esse artigo dizendo: ‘Como é possível’ -- só faltou dizer naquele paizinho lá do Brasil -- ‘que um homem que nunca viajou’ -- ela enfatiza isso -- ‘é um gênio comparável a ...’ ”

Confira a entrevista completa no site do Estadão. Vale a pena!

Um abraço fraterno.

Helena Frenzel
Enviado por Helena Frenzel em 13/04/2009
Reeditado em 19/08/2009
Código do texto: T1536768
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