ILUSÕES PERDIDAS
Por Ulisflávio Evangelista
Definir a estória de Balzac como o “início do Jornalismo na França” me parece algo muito simplista e de percepção vaga e humilde.
Com uma narrativa proposta em dicotomias de paixão e luxúria, soberba e poder, realidade e fantasia, o romance desencadeia-se no universo profissional da França do século XVII, onde destaca-se seu protagonista de coração puro que busca um desejo ilusório, e por assim dizer, procura por uma vida distinta das dos jovens de Augoulême.
O jovem em questão é Lucien Chardon, formado em ciências naturais, mas que dedicava-se a Literatura, sua verdadeira paixão. De origem pobre, almejava a nobreza e para tanto, entendia ser necessário sair do interior e tentar a vida em Paris. Tal decisão fora impulsionada após uma rápida e inconseqüente paixão, envolvendo a Marie-Louise-Anaïs de Nègrepelisse, mais conhecida como a “Senhora de Bargeton”. Casada com o Senhor de Bargeton, Naïss – como era chamada pelos íntimos – é mergulhada de encanto pelo jovem Poeta. Naïs sonhava com os mistérios da paixão que não encontrara em seu casamento, e via em Lucien além de toda sua beleza e vivacidade, a doçura de suas palavras e a beleza dos seus poemas.
Cego pela paixão, Lucien infiltra-se em uma nova realidade, realidade que não conhecia, e que acostumava-se a cada dia. Esses ingredientes somadas a beleza carnal de Naïs, fazia com que o jovem poeta se deslumbrasse. Experimentava prazeres inimagináveis em sua mente pura.
Ainda em devaneios constantes pela nobreza á seus pés, Lucien incentivado pelas palavras de Naïs assinava agora um novo sobrenome, passando de um simples “Chardon” (sobrenome de seu pai) para um requintado “Rubempré” (sobrenome de sua mãe), tal mudança era necessária para dar continuidade a ilusão iniciada. O jovem poeta era conhecido agora por “Senhor de Rubempré” e finalmente viaja com sua amada para Paris, levando consigo dois originais, um romance e um de poemas.
Com uma chegada triunfal, Lucien, ou melhor, “Senhor de Rubempré”, respira o ar da nobreza, alcançava finalmente o poder ao lado de Naïs, que prometera contatos profissionais para continuar o sonho de poeta...porém a falsa identidade não resistiria por muito tempo e com ela, caia também a paixão de Naïs pelo poeta.
Sem Naïs, sem nobreza e agora, também, sem dinheiro, Lucien se vê obrigado em negociar seus originais, na busca de economias para se manter em Paris. Sem muito sucesso, principalmente em decorrência do acordo financeiro proposto, Lucien opta por não vendar. Desolado, o jovem poeta decide passar o tempo na biblioteca e lá conhece um amigo, e o seu primeiro e verdadeiro editor, Daniel.
Comovido pela estória de Lucien, Daniel lê o seu romance e aponta valiosas sugestões que são prontamente atendidas por Lucien. A amizade entre os dois floresce na medida inversa que seu dinheiro diminui, desta forma, Daniel resolve ajudar novamente o jovem poeta, apresentando os amigos intelectuais Harace Bianchon, Léon Giraud, Joseph Bridau e Fulgence Ridal, grupo conhecido como “O Cenáculo”.
Neste grupo, Lucien retoma com vigor seus ideais, os planos de grande poeta, triunfando pelo êxito e fama. No entanto, sua situação financeira era seríssima, consciente desse estado, “O Cenáculo” resolve agir, doando ao rapaz a quantia de duzentos francos, valor suficiente para Lucien se manter por mais dois meses. Inconformado de início e agradecido posteriormente, ele resolve arriscar-se pelo caminho mais fácil e rápido, opondo-se ao grupo ao decidir conhecer melhor o jornalismo e os jornalistas, taxados de anti-éticos.
Decidido e otimista, Lucien fica ouriçado com a primeira impressão. Freqüenta redações, conhece pessoas, anda com personalidades importantes, tira proveito de situações, ganha dinheiro e por fim apaixona-se novamente pelo status presente.
E apaixona-se novamente também por uma mulher, Coralie. Uma linda atriz de teatro sustentada por um importante negociante de sedã. Tudo em sua vida começa a deslanchar. O amor verdadeiro, a venda de seus originais, é batizado jornalista, importantes trabalhos publicados são reconhecidos pela crítica parisiense e, por conseqüência de seu trabalho, o dinheiro, a riqueza e a fama. Lucien e Coralie, amantes desse status não poupam dinheiro, ao contrário, esbanjam-se aos montes. Os antigos amigos do “O Cenáculo” se distanciam, acreditando no trajeto incrédulo tomado por Lucien.
Incentivado pelos “novos amigos” da imprensa, Lucien se dedica a escrever, suas resenhas causam polêmicas e, com o tempo, estremecem a sociedade local, recaindo ao jovem poeta, grandes conseqüências... conseqüências irreversíveis a Lucien.
Coralie, sua amada, sofre com uma doença terminal, a controvérsia de seus escritos não lhe rendem mais trabalhos e, como conseqüência, as necessidades financeiras atormentam o poeta imaturo e impuro, que é penalizado pela morte de seu grande amor.
Lucien finalmente compreende aquela profissão, não havendo mais ilusões em sua vida!