Fique quieta por favor.
 
       Não, não estou mandando ninguém calar a boca. Estou iniciando uma resenha sobre o livro do norteamericano Raymond Carver.
       Tenho esse livro há muito tempo e o considero uma preciosidade. Fiz recentemente uma releitura. Vinte e dois contos. O último é o que nomina o livro.
       Carver foi um dos fundadores do minimalismo. Escreve sobre pessoas comuns e o cotidiano de suas vidas. Ele sabe que qualquer pessoa e qualquer fato pode ser transformado em uma história. Na verdade, consegue tirar leite de pedra. É um artífice da criação literária.
       Os contos deste livro foram publicados entre 1963 e 1976. Carver morreu em 1988. Aos cinqüenta anos, de câncer. Robert Altman dirigiu um filme baseado em seus textos minimalistas. Short Cuts (Cenas da Vida, 1993)
       As frases são curtas. Esta é a base dessa corrente literária. Uma corrente que na verdade extrapola a literatura. É um movimento artístico no qual se empenharam várias modalidades de arte. Como a pintura e a escultura. O mínimo se mostrando o máximo. Não é necessário muito para a comunicação artística.
         O conto O Gordo, que dá inicio ao livro inspirou meu conto A mulher magra. Inspirou. Um não tem nada a ver com o outro, a não ser a disparidade entre os pesos que têm.Dariam um bom casal. A mulher magra e o homem gordo. Nele, um homem é tão gordo que só se refere a si como nós. Como certos políticos brasileiros que pensam que são dois> eles e o rei que mora em suas barrigas.
       Eu não sabia, além de contista, foi também poeta. Consegui achar na net um poema seu do qual gostei. Acheio-o em um blog: Modo de usar & Co. Foi traduzido por Angélica Freitas. Ei-lo:

                           O Padeiro
 
Então, quando Pancho Villa chegou à cidade
Enforcou o prefeito e convidou
O velho e trêmulo Conde Vronsky para jantar.
Pancho apresentou a sua nova namorada
Junto com o marido em seu avental branco.
Mostrou a Vronsky sua pistola
Depois pediu ao Conde que lhe contasse
Sobre seu infeliz exílio no México.
Mais tarde a conversa foi sobre mulheres e cavalos.
Os dois eram especialistas.
A garota dava risadinhas
E mexia nos botões de pérola
Da camisa de Pancho até que,
Precisamente à meia noite, Pancho pegou no sono
Com a cabeça na mesa.
O marido fez o sinal da cruz
E deixou a casa segurando as botas,
Sem fazer um gesto
À mulher ou a Vronsky.
Esse marido anônimo, descalço
Humilhado, tentando salvar sua vida, ele,
é o herói deste poema.