A soma dos dias
“(...) agradeci a sorte de ter tropeçado por acaso com o amor e que tantos anos mais tarde ele preservasse intacto o seu brilho (...) senti que me fundia nesse homem com quem havia andado por longe e abrupto caminho, tropeçando, caindo, levantando de novo, entre brigas e reconciliações, mas sem nos trairmos jamais. A soma dos dias (...) eram nosso destino” página 376.
A escritora chilena ISABEL ALLENDE, autora de sucessos como A casa dos espíritos e Inês da minha alma, com mais de 50 milhões de livros já vendidos e milhares de fãs, em seu mais novo livro, A SOMA DOS DIAS (La suma de los dias, tradução de Ernani Ssó, Bertrand Brasil, 378 páginas, R$ 49,90) narra com franqueza as memórias de sua vida durante as duas últimas décadas. Uma vida que poderia ser um roteiro de cinema, pela
Casada com o advogado e também escritor, William C. Gordon, que chama carinhosamente de Willie, Allende relata, como no trecho citado, a história do amor entre um homem e uma mulher, que venceram juntos os muitos obstáculos sem perder a paixão e o sentimento do amor entre eles e sua família. Retoma a narrativa de Paula, onde relembrava os acontecimentos posteriores à perda da filha, vítima de uma doença rara, como se estivesse escrevendo uma carta para a filha, estilo que continua em A soma dos dias.
Em seu segundo livro de memórias, terceiro autobiográfico, Allende conta sua vida após o trágico fato em família, de como organizou a sua vida para está rodeada de sua tribo, como tem o costume de chama sua família. Abrindo o seu coração, fala da vida que possui, seu cotidiano na casa que mora na Califórnia, sempre cheia de gente e de personagens literários e protegida, como ela mesmo fala, por um espírito.
Gracioso texto, que aborda os filhos que se foram; netos e livros que nasceram, êxitos e dores, uma viagem ao mundo das drogas e outras a lugares remotos da Terra em busca de inspiração, misturado com divórcios, encontros e desencontros, grandes amores, separações, crises conjugais e reconciliações.
Allende é uma mulher inteligente e divertida em sua narrativa, que esquecemos os momentos ruins de sua vida, aconselha quando precisa, eloqüente quando lembra da filha e engraçada em suas lembranças de viagens. Aborda todos os livros que escreveu nesse período, e temos um olhar direto da sociedade norte-americana pela perspectiva de uma senhora latino-americana, que reúne em sua volta, os filhos de seu esposo e os seus, suas conquistas e seus dramas.
Aos 65 anos, Isabel Allende marca sua história literária, conversando com seus leitores tudo que houve por trás de seus bestsellers. Uma vida que se converte em novela e surpreende pelo reconhecimento da forma que a autora expõe sua vida. Ótima leitura.