Cinzas do Norte – Milton Hatoum





          Pelo que sei, Milton Hatoum escreveu quatro romances. Já li dois: Dois Irmãos e Cinzas do Norte. Acabei de ler este último hoje pela manhã. Li o primeiro para ver como o autor tratava o tema de dois irmãos inimigos. O romance que eu estava escrevendo (Os filhos de Abud) gira em torno desse assunto. Mas não adiantou nada. Meu livro continua parado no terceiro capítulo. 

     Adiantou nada é maneira de dizer, porque adiantou muito: eu me apaixonei pela obra desse professor de literatura amazonense que traz esse Brasil tão distante para perto de nós  Certamente vou ler todos.
 
     Cinzas do Norte, o que acabei de ler, se passa em Manaus. Começa em Manaus e se estende para mais longe. Rio, Berlim, Londres. Dois meninos se tornam amigos: Olavo e Raimundo e a amizade atravessa os anos e vai além da morte. É Lavo quem conta a história e a história gira em torno de Mundo. Olavo é pobre e órfão, criado pelo tio Ran e a tia Ramira. Mundo é rico, muito rico, filho de Alícia e Trajano. Mas Mundo não é feliz porque o dinheiro não lhe importa: quer apenas ser amado pelo que é: um artista rebelde.
 
     É um livro cinzento e triste. São vidas fracassadas que se cruzam, ligadas por um grande segredo. Um segredo que destrói todos envolvidos nele e que só se revela no final, embora o tempo todo a história nos mostre que há um segredo. Amor e lealdade, traição e ciúme, obsessões e desvarios. Paixão e inveja. Há de tudo nesta história, triste, mas muito bem contada. Prende a atenção. Pela trama e pela técnica.
 
     O período vai dos anos sessenta aos oitenta. Os anos de chumbo estão presentes. O Governo Militar é retratado com todo o seu poder ditatorial. O avanço da ganância sobre a Amazônia se torna claro. São poucas as vozes que se levantam. Mundo busca alguma coisa que nem mesmo para ele é muito clara. Ran é um vagabundo assumido, mas cheio de paixão. Por amar tanto ele acredita no que quer acreditar. Inveja e resignação caracterizam a vida de tia Ramira. E um amor platônico e dolorido. Alícia, ao conseguir o que queria destruiu a vida de todos ao seu redor. Macau e Aranda se vendem, um por muito, outro por pouco. E assim a vida vai passando, totalmente sem esperança.A vida que acaba em cinzas. E sem nenhum norte. Lavras, 10 de outubro de 2008