Setembros de Shiraz
Dalia Sofer tem pouco mais de 30 anos, é mestre em Artes, uma iraniana que chegou aos EUA, fugindo da irracionalidade da Revolução Islâmica dos aiatolás e que no ano passado foi aclamado pela crítica literária norte-americana por seu livro de estréia, Setembro de Shiraz (The septembers of Shiraz, tradução de Alyda Sauer, 288 páginas, R$ 39,00), lançado pela Rocco recentemente. Um relato meio que autobiográfico, uma narrativa ficcional criada para provocar o leitor a se sensibilizar com os segredos do sofrimento de uma abastada família judia naquele período extremo.
Um romance pungente sobre uma família pega de surpresa na Revolução, transportada para um novo mundo, onde cada movimento é suspeito. Tudo começa, em um certo dia em 1981, depois da Primeira Fase da Revolução, quando o comerciante Isaac Amin é preso pela Guarda Revolucionária e levado para interrogatório. Isaac é um joalheiro que até então vivia no conforto do regime do xá Reza Pahlevi, judeu é imediatamente colocado como suspeito, durante a fase dura da revolução que leva o aiatolá Khomeini ao poder, principalmente por seu lucrativo comércio ser com o estado de Israel. Diferente de tantos outros compatriotas que fugiram, Amin ficou, pois não podia deixar seus bens e negócios para trás, assim o mundo que vivia é virado de cabeça para baixo, e sua vida é aos poucos sendo ameaçada, pois o governo iraniano suspeita que ele seja um espião israelense.
Aos olhos de sua esposa e de sua filha Shinin, a história se torna angustiante, Farnaz, a mulher de Amin, inventa desculpas para a filha de nove anos que vê sua vida desabar, tentando explicar o que aconteceu com o pai. As duas vivem outras forma de prisão, lutando diariamente contra as dores da saudade e da falta de informações do esposo.
Podemos dizer que Shinin é o personagem mais vigoroso no romance, uma adulta em um corpo de criança, que lida com uma realidade assustadora, com o sofrimento e o sentimento de perda, mas que se supera ante as adversidades.
Como uma estréia, é uma excelente narrativa, profunda e sensível, Dália alterna a narração entre Amin e seus filhos, fazendo do olhar de Shirin com o que passou durante o mesmo período. A descrição das torturas, da ideologia dos captores e dos simpatizantes é notável, contudo não contempla a violência da repressão religioso e do anti-semitismo, mas sim a voz dos oprimidos, que sente a dor das torturas de seus algozes. Uma obra que apalpa a revolução como nunca, descrevendo a tortura em meio as cores, cheiros e sentimentos de seus personagens numa narrativa que aborda a liberdade e alienação, o amor e identidade com sensibilidade.