Janela da Alma
frase de Leonardo Da Vinci "O olho é janela da alma, o espelho do mundo" é o ponto de partida e o que norteia de fato o excelente documentário de Walter Carvalho e João Jardim. O filme trata a questão do olhar, do mundo imagético, sob perspectivas diferentes, através do depoimento de personalidades que apresentam alguma deficiência visual, que vai desde a miopia à cegueira total.
O filme aborda a visão e suas limitações, apresentando-a como uma mediação, baseada nos nossos conceitos e percepções, realizadas entre o olhar e o objeto, o diálogo da subjetividade de cada um com o real, no qual criamos várias formas de ver o real. Como disse a cineasta franco-belga, Agnes Varda no filme: ?A visão é alterada por sentimentos, sentimentos fortes.? Já em seu depoimento, o cineasta Win Wenders fala de sua experiência com as lentes de contato, em que sentiu um grande incômodo, pela ausência do enquadramento proporcionado pela armação de seus óculos.
A relação linguagem x imagem nos é mostrada não como coisas distintas que se comunicam de alguma forma, mas sim com uma forte interdependência entre ambas, não a podemos tratar isoladamente, pois possuem uma relação intrínseca de pertencimento. Separá-las consistiria em fragmentar a essência e o significado de cada uma.
A sociedade contemporânea proporciona e impõe um ritmo frenético e incessante de imagens e informações, no qual temos acesso a tudo em excesso e conseqüentemente nada temos, pois imagem em excesso acaba implicando em uma dificuldade para nós assimilarmos e emocionarmos com elas. Como é dito no documentário, a maioria das imagens que vemos não nos diz nada, mas sim tenta nos vender algo, essa á lógica do ?bombardeio? informacional diário.
Há uma superexposição de fatos e imagens e acabamos sem saber o que de fato isso significa. O filme faz com que tenhamos uma visão diferente, que vai além do que nos é mostrado, evidenciando não só o que nós vemos e como vemos, mas também de que forma enxergamos a nós próprios.
O documentário destoa da maioria, apresenta um tom levemente filosófico-poético, alcançando a dramaticidade e a comédia em determinados momentos, a produção de Walter Carvalho e João Jardim é bastante sensível e inteligente, explanando sobre as diferentes possibilidades de vermos o mundo, seja ela consciente, inconsciente ou imposta por alguma limitação física. Ele encerra-se através da imagem de um parto, que é quando o mundo surge diante dos olhos do bebê, o mundo real lhe é apresentado.
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