Tropa de elite (2007) de José Padilha

Lançado em 2007, o filme Tropa de Elite dirigido por José Padilha, é um dos filmes mais polêmicos e impactantes do cinema brasileiro. Com o roteiro de Bráulio Mantovani e Rodrigo Pimentel (autor do livro que foi a inspiração do filme), o longa acompanha a realidade do BOPE (Batalhão de Operações Policiais Especiais), sendo uma unidade de elite da Polícia Militar. O centro da história é o Capitão do BOPE Roberto Nascimento (interpretado pelo Wagner Moura), o filme é contada em primeira pessoa na visão do Capitão, onde ele se vê diante de um dilema moral entre enfrenta o tráfico de drogas e lidar com a pressão de um sistema corrupto.

O enredo gira em torno de Nascimento, um capitão do BOPE que está tentando encontrar o seu sucessor, e com isso ele se envolver com dois jovens aspirantes a oficiais da PM: Neto e Matias. O filme inicialmente é contado in medias res ( um estilo narrativo onde a história começa no meio dos acontecimentos, em vez de ser no início), onde após uma invasão do BOPE na favela, ocorrendo assim uma troca de tiros, e após isso o filme volta a seis meses atrás para nos dizer o que está acontecendo.

Inicialmente o filme não se apresenta a nós como uma forma de escapismo da realidade, o fato dele ser narrado em primeira pessoa pelo Capitão Nascimento, trazendo assim a sensação de que aquela história não será contada para uma imersão na ficção, mas que na verdade nós ilustra uma sensação de realidade. Outrossim é a novidade na iconografia (termo usado para definir os motivos visuais, símbolos e outros elementos de um filme), em comparação com outros filmes da favela brasileira onde as fotografias são quentes, as cores do filme é são na maioria das vezes em tons frios, os ambientes do universo policial, é iluminado por luzes fluorescentes, sem grandes tonalidades, aquele dia a dia do ambiente policial é considerado desinteressante e a visão de mundo distópico do narrador contamina a nossa percepção das coisas com a sua "frieza". Em tropa de elite a favela é um campo de guerra, uma batalha o tempo todo, onde a favela é unicamente estilizada e ainda visualmente rica, mas sem o tom afetivo utilizado em outros filmes.

Tropa de Elite é o mais puro registro da sociedade brasileira, tendo hipocrisia, ganancia e ate mesmo inocência, onde policiais torturam "inocentes" para prender os bandidos, ou até mesmo ricos financiando o crime e matando policiais e indiretamente comprando um discurso de pacifista. O filme nos mostra que não existe lado certo, bom ou errado, no fim a moral do filme é que todos estamos errados, não existe uma cura ou uma solução, até mesmo o narrador da história ele não é o herói do filme, a interpretação de Wagner Moura como Capitão Nascimento é magnifica, mostrando a complexidade do personagem: um policial dedicado para acabar com o crime e a corrupção, mas o seu modo de acabar com o crime é sendo brutal, brutal ao ponto de ser igual aos criminosos. Nascimento como eu disse é ao mesmo tempo o herói e o vilão da história (sendo até um erro meu em dizer que nessa história existe herói e vilão.)

Tropa de Elite é o filme que mostra José Padilha para o mundo, sendo um filme impactante, nos mostrando a verdadeira realidade e utilizando de alguns meios para comprarmos essa ideia, o filme não é perfeito, mas é um filme que expões muito da cultura brasileira sendo de maneira triste, pesada e impactante, e justamente por isso que o longa é muito difícil de ser visto por estrangeiros, pois é um dos filmes mais brasileiros que existe, sendo uma peça de convencimento eficiente, por vezes de maneira sofisticada, mas não deixando de ser moralmente condenável. Não há guerra que justifique o atropelo da lei, mas sabemos que por enquanto essa é a maneira mais utilizada. Tropa de Elite é uma obra que se destaca por sua coragem em enfrentar temas difíceis e sua capacidade de gerar discussões sobre a realidade social brasileira.