O noivo da girafa
O NOIVO DA GIRAFA
Miguel Carqueija
Resenha do filme brasileiro “O noivo da girafa”. Cinedistri, 1957. Produção: Oswaldo Massaini. Direção e roteiro: Victor Lima. História: Arnaldo Morgantini. Música: Radamés Gnatalli.
Elenco: Amácio Mazzaropi (como Aparício Boamorte; Mazzaropi também interpreta os números musicais), Glauce Rocha (Inesita), Roberto Duval (Poeta), Nieta Junqueira (Xantipa), Celeneh Costa (Clara), Francisco Dantas (delegado), Vera Lúcia (Aninha), Arnaldo Montel (Carlos), Manoel Vieira (Seu Gonçalves), Zulmira Aguiar, Pachequinho, Carlos Duval, Ferreira Leite, Waldir Maia.
Comédia da fase inicial de Mazzaropi, quando ele ainda não era o produtor. No filme em questão o produtor é o conhecido Oswaldo Massaini, que tinha critério e qualidade e 15 anos depois realizou o épico “Independência ou morte”. O diretor Victor Lima era especialista em chanchadas.
Mazzaropi é sempre engraçado com seu jeito de andar e também de falar, sempre fazendo o tipo caipira. Nesta comédia carioca, com imagens da cidade, ele faz o Aparício Boamorte, e o sobrenome é referência à situação. Funcionário humilde do zoológico, ele fez amizade com a girafa, ganhando dos colegas o apelido que dá título à película. Todavia a girafa só aparece no início e no fim.
Aparício é maltratado e desprezado na hospedaria onde mora; o proprietário, Gonçalves (Manoel Vieira, conhecido comediante português que aparecia muito nos humorísticos da televisão brasileira), vive implicando com ele. Quando Aparício faz um exame de sangue com o veterinário do zoo, por não ter dinheiro (coisa de comédia nacional, inverossímil na vida real) a amostra é trocada pela de um macaco doente. Dado como portador de leucemia em grau adiantadíssimo, com talvez 15 dias de vida, a situação muda na pensão e todos passam a tratá-lo bem. O Gonçalves pensa até em casá-lo às pressas com a filha Clara, para aproveitar a provável herança de um tio do Aparício, ainda vivo.
Desnecessário é dizer que ninguém conta ao infeliz a sua próxima morte; e Aparício trata de aproveitar a nova situação mesmo sem compreender porque todo mundo agora o trata às mil maravilhas.
Uma boa sátira à condição humana e ao caráter falso e interesseiro de tantas pessoas. E é sempre bom ver o Mazzaropi atuando, ele tem suas afinidades com Chaplin e Cantinflas, retratando o homem humilde e simples, mas de bom coração, em meio a um mundo cruel.
Rio de Janeiro, 1º de julho de 2022.