Uma comédia com o Carequinha

UMA COMÉDIA COM O CAREQUINHA

Miguel Carqueija

 

Resenha da comédia “Sherlock de araque” (Herbert Richers Produções, Brasil, 1957). Produção: Herbert Richers. Direção: Victor Lima. Roteiro: Moysés Weltman e Victor Lima. Música: Maestro Cipó (Orlando Costa). Fotografia: Amleto Daissé. Números musicais com Carlos Imperial, Paulo Silvino e o conjunto Os Terríveis. Duração: 97 minutos.

Elenco: Carequinha (Sertório), Costinha (Deodato), Hamilton Ferreira (Cabrobó), Caleneh Costa (Odete), Maurício Sherman (Sanguinário), Fred Vilar (Detetive Pixote), Carlos Tovar (Doutor), Delorges Caminha (Abreu), Mara Di Carlo (Adelaide), Joel Vaz (Robertinho), Wilson Grey (El Cocho), Joyce de Oliveira (Sra. Abreu), Germano Filho (El Sordo), Sonia Lancellotti (Mariazinha).


É um bom filme, apesar da interpretação afetada que durante muitos anos foi defeito das produções brasileiras. É também uma obra raríssima, que assisti pela primeira vez com minha mãe, na televisão, num milênio que não foi o atual.

A TV Brasil, ex-TV Educativa, exibiu esta comédia na noite de 27 para 28 de janeiro de 2022, quando pude rever depois de tantos anos. Só pelo elenco vale a pena assistir, principalmente o palhaço Carequinha, irreconhecível sem traje e maquiagem circenses. A gente reconhece pela voz e algumas acrobacias. Ele interpreta Sertório, guarda civil que trabalha com Deodato (o comediante Costinha). São uma dupla Cosme e Damião, tal como existia naquele tempo; dois policiais atrapalhados e apavorados, além de enrolados com problemas pessoais. Hamilton Ferreira, comediante muito popular na televisão, faz o punguista Cabrobó, o criminoso menor que obtém a simpatia do público, ajuda relutantemente a polícia num caso que envolve assalto e rapto e acaba passando a perna em todo mundo.

Existe o Detetive Pixote, interpretado por Fred Vilar, que fazia dupla com o Carequinha e tem um momento de comicidade, na hora em que Sertório e mais três iam seguir num carro minúsculo para resgatar o Sr. Abreu, ele chega e diz: “Vocês pensaram que iam me deixar pra trás? Eu também vou!”

Costinha está aqui muito longe do humor fescenino que era sua característica habitual. Creio que isso era evitado nas produções de Herbert Richers, chanchadas como eram conhecidas.

É um tanto forçado que no fim os detetives não dêem conta da situação, que só é resolvida com a chegada de Carlos Imperial e seus roqueiros.

Há também uma pequena mensagem em favor do trabalho e da seriedade, em oposição a uma juventude frívola e inútil. A piada final, do teto que ia cair, é excelente.

Victor Lima realizou um bom trabalho de direção, dando um certo ar sombrio com a fotografia em preto-e-branco e cenas noturnas.

Uma preciosidade do cinema nacional, que vale a pena assistir.

 

Rio de Janeiro, 28 de janeiro de 2022.