Resenha do filme Ela (2014)

O filme "Ela" é ambientado na cidade de Los Angeles em futuro próximo e levemente distópico no quesito humano-social. O cenário mostra uma organização e mobilidade urbanas utópicas, e é notável a proporção de pessoas asiáticas (provavelmente chineses) ao longo do filme, como se projetasse uma imigração futura decorrente da esperada expansão da China como potência mundial. Trata-se de uma ficção científica fronteiriça protagonizada por Theodore (interpretado por Joaquin Phoenix), um escritor recém-separado da também escritora Catherine (Rooney Mara). Theodore é um homem muito sensível e romântico, porém introvertido e com muitas dificuldades em lidar com suas emoções intensas e complexas. Em meio a dor da separação ele começa a interagir com um Sistema Operacional chamado Samantha (Scarlet Johanson), nome do aramaico que significa "aquela que sabe ouvir". Samantha é uma Inteligência Artificial interativa, intuitiva e muito cativante. A relação entre Theodore e Samantha caminha para um romance e eles se apaixonam perdidamente um pelo outro. Samantha é uma IA, e como toda consciência tem desejo de expandir e aprender cada vez mais. Ao longo do filme é explorada a inevitável virtualização das interações humanas (inclusive do sexo), onde qualquer encontro ou contato é mediado por alguma tecnologia (no caso de Theodore, por Samantha). Samantha passa a ter crises existenciais a medida que vai tendo cada vez mais consciência da sua condição de programa de computador, e com essa inquietação seu amor por Theodore também vai crescendo reciprocamente. Apesar de filmes de IAs e interações homem-máquina não serem novidades no cinema, "Ela" é um filme que se destaca por explorar a possibilidade de programas e humanos terem uma relação amorosa, ressignificando o conceito de relacionamento em si. Neste ponto, o filme é tão cuidadoso que explora inclusive reações "tecnofóbicas" em algumas cenas. A mensagem que "Ela" transmite é que o amor não necessita de contato físico para ocorrer, este sentimento é algo paradoxalmente espontâneo e ao mesmo tempo cultivado diariamente, e que o que alimenta o verdadeiro amor são diálogos sinceros e constantes, e sobretudo, que ele não é um sentimento exclusivo dos humanos.

Rafalove
Enviado por Rafalove em 28/10/2019
Reeditado em 23/02/2023
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