O Ladrão (Rússia, 1952)
Já há algum tempo não me vejo mais atraído pelos filmes americanos, o que me fez querer mudar de ares. Estive analisando algumas produções italianas, passei também pelas francesas e cá estou eu para falar de um filme russo. É possível que todo mundo tenha um dia ouvido falar da qualidade diferenciada do que se produz nesse país, principalmente no que diz respeito ao cinema e à televisão.
Em especial, quero deixar registrada a minha avaliação da obra “O LADRÃO”, filme que se desenvolve em território russo no período pós-guerra da década de 50. Muito se admira a atuação do pequeno ator Misha Philipchuk, que vive o Sanya, órfão de pai e um dos protagonistas do filme. O menino acompanha a mãe Katya (Yekaterina Rednikova) em uma viagem de trem nada prazerosa. No percurso, ela se apaixona por Tolyan (Vladimir Mashkov), um oficial bonito e conquistador, o que muda completamente os seus planos de vida. Vê-se, então, uma nova família, unida pelo comum desejo de prosperidade, em busca de um lugar sem miséria, medo ou tristeza.
Nas variadas tentativas de garantir o bem da namorada e do “filho”, Tolyan acaba ensinando ao garoto princípios os quais sua mãe não apoia. Pretensiosamente, a trama mostra ao expectador o lado “positivo”, ou no mínimo justificável, da falta de caráter, além da necessidade de praticar o roubo e a mentira. Quem assiste ao filme e se entrega de verdade à história, muitas das vezes se vê mais torcedor pelo bem dos três personagens do que a própria Katya, mulher conservadora e resistente à vida errônea e desregrada à qual se submete com o “marido” e o filho.
Alguns não acreditam que pode haver influência para a prática do bem e do mal. A trama mostra que um suposto “justiceiro e ditador da realidade” acaba por se tornar aluno e vítima de seu maior aprendiz. Com isso, a obra cinematográfica Pavel Chukhraj se preocupa em provar que a construção da personalidade se dá ao meio e às pessoas que se relacionam com determinado indivíduo, ainda que não seja isso regra aceita por todos os opinantes.
O filme “O LADRÃO” evidencia o forte aspecto desumano da União Soviética. As famílias já não têm mais estrutura e moradia fixa e tampouco seguem os padrões convencionais da sociedade. Como se nota ao assistir esta e outras obras do gênero, fome e precariedade são grandiosos recursos usados para causar comoção e empatia. E acredite: funcionam bem, mais que muitas histórias de amores impossíveis retratadas pelo cinema americano.