O Regresso - Análise SEM SPOILERS

Companheirismo é a palavra chave desse novo longa metragem do diretor Alejandro Iñárritu, que já conquistou a academia ano passado pelo excelente Birdman (ou A Inesperada Virtude da Ignorância), que cria uma experiência cinematográfica de outro planeta. Com belas tomadas, atuação fantástica, grandes planos sequencia, locações reais e filmado com luz natural... Tudo isso junto de um roteiro bom com alguns poucos tropeços, que conta a história do explorador Hugh Glass que após ser atacado por um urso e abandonado prestes a morrer pelo grupo consegue se safar pra ir em busca de vingança, faz de O Regresso uma obra de arte.

As partes técnicas do filme são excelentes, todas as tomadas do ambiente até as cenas de ação, logo no começo do filme vemos o ataque de nativos contra o grupo de Hugh que é filmado em plano sequencia orgânico pra trama que ajuda o espectador a ficar tenso e ao mesmo tempo contemplar o ambiente. É curioso notar também que existem elementos aqui e acolá que acabam quebrando a quarta parede... Vemos sangue jorrando na lente e até mesmo a respiração dos personagens embaçando-a para criar uma situação em que você sabe que está presenciando um filme baseado em uma história real e não a história em si, já que o mesmo sofre alterações para se encaixar em um arco dramático.

Arco esse que acaba soando um pouco fantasioso demais pra um filme que é baseado em fatos, temos partes em que o personagem principal começa a alucinar, ver coisas e acaba contemplando o ambiente demais onde não havia necessidade e notamos que o roteiro acaba se perdendo na maneira como quer fazer filosofia onde apenas a história de superação já levaria a mensagem de uma forma bem mais natural e fluída... Ah, nada que comprometa o filme em si já que até mesmo nesses escorregões a atuação do DiCaprio consegue salvar.

Leonardo DiCaprio está fazendo o papel de sua vida! E não é brincadeira não, é realmente o papel da vida dele. Se em O Lobo de Wall Street tinha mostrado suas facetas para ir de um sínico milionário para um homem acabado em sua própria luxuria, com O Regresso faz um homem sofrido com o tempo e todas as coisas que já viveu porém, ironicamente ou não, é o ataque que sofre do urso e o extinto de vingança que faz seu personagem renascer para embarcar em uma jornada de descobrimento e autoconhecimento, DiCaprio consegue fazer todas essas facetas magistralmente desde a dificuldade de andar, até o olhar, que antes cansado, passa por várias mudanças até a catarse final.

Para completar a obra de Iñárritu as tomadas que contemplam o ambiente são maravilhosas, apesar que algumas não contam nada pra trama, cada uma pode ser impressa e emoldurada para colocar em qualquer lugar da casa, outros nomes do elenco também se destacam como Tom Hardy (que faz um suposto vilão) e Will Poulter (faz um jovem muito interessante). A qualidade do figurino e das maquiagens também é algo que dá mais beleza e verossimilhança a trama num todo. É com pesar que, provavelmente, Iñárritu não leve o Oscar de melhor diretor já que ganhou com Birdman ano passado, pois O Regresso é infinitamente melhor. Fica a torcida pelo DiCaprio sair da seca.