A Origem

“Qual é o parasita mais resistente que existe? Uma bactéria? Um vírus? Não. É uma idéia! Resistente e altamente contagiosa. Uma vez que uma idéia se apodera da mente, é quase impossível erradicá-la. Uma idéia que é totalmente formada e compreendida, permanece.”

Essa é uma frase dita por Dom Cobb logo nos primeiros minutos de

A ORIGEM (Inception, 2010), e mostra desde o início que o novo filme de Christopher Nolan não se trata de um mero blockbuster de verão.

O diretor britânico que entrou no patamar de celebridade logo após a direção do sucesso ‘Batman – o cavaleiro das trevas’, mais uma vez mostra o seu talento e demonstra que não deixou a fama subir sua cabeça, apresentando novamente uma excelente obra.

Na trama, Cobb (Leonardo DiCaprio) é um extrator, alguém especializado em invadir a mente das pessoas durante os sonhos - usando uma tecnologia criada pelo exército - para roubar os segredos mais ocultos. Logo depois de falhar na invasão da mente de Saito (Ken Watanabe), Cobb recebe do próprio multi-bilionário uma propósta bastante inusitada: em vez de roubar um segredo, desta vez ele teria que inserir uma idéia.

A questão é que o dono da principal empresa concorrente a Saito está prestes a falecer. Seu filho Robert Fischer(Cillian Murphy) logo vai herdar o império do pai, e o bilionário quer que Cobb insira a idéia de que Fischer deve dividir o conglomerado do pai, afim de deixar a empresa de Saito como a maior do mundo no ramo de energia.

Apesar de ser considerada impossível por muitos, a propósta de inserir uma idéia na mente de Fischer é aceita, e logo Cobb reúne uma equipe que vai auxiliá-lo a adentrar os níveis mais profundos da mente de sua vítima. Mas lá dentro, eles vão descobrir que inserir uma idéia no seu estado original, é mais difícil do que imaginavam.

A Origem é um filme inteligente e complexo, como há muito não se via nos cinemas. O roteiro que foi escrito pelo próprio Nolan, demonstra uma genialidade rara de se ver em filmes de ação, criando uma trama densa e que jamais subestima a inteligência do espectador. Em vez de mastigar explicações para deixar as pessoas em estado cômodo, o filme vai criando um emaranhado de argumentos, afim de deixar a quem assiste ativo a todo momento. Apesar de complexo, A Origem jamais soa cansativo, pois existe uma ânsia em compreender aquilo que está sendo exposto, e sempre existe algo de novo sendo apresentado ao público.

O longa é repleto de referências à psicnálise, recheando o roteiro de noções de geometria e física, para recriar aquele mundo de infinitas possibilidades. São apresentados conceitos sobre sonhos dentro de outros sonhos, sobre projeções do subconsciente, e sobre o poder letal de uma mente descontrolada em um mundo onde não há limites.

Quando Cobb procura a ajuda da aluna de arquitetura Ariadne (Ellen Page), passamos a ter um representante dentro da tela. Ela será a arquiteta que projetará o sonho para onde Fischer será levado, e apartir dos ensinamentos de Cobb e seu ajudante Arthur (Joseph Gordon-Levitt), vamos junto dela aprendendo um pouco mais sobre o mundo dos sonhos.

A direção de Christopher Nolan é impecável, extraindo o melhor de seus atores, dando vida a um mundo real e ao mesmo tempo fantasioso. As cenas de ação são muito bem executadas e de fácil entendimento para quem assiste.

Conforme o filme avança, descobrimos os segredos do próprio Cobb, envolvendo as projeções de sua falecida mulher Mal (Marion Cotillard), que passam a interferir cada vez mais em seu trabalho dentro dos sonhos dos outros, e serão ponto crucial na resolução da trama.

A trilha sonora de Hans Zimmer também é magnifica, mesclando tons graves e agudos, em músicas que vão desde o dramático até ao desesperador. Aliás, é interessante a brincadeira que Zimmer e Nolan fazem com Marion Cotillard, utilizando como sincronização do "chute" uma música de Edith Piaf, cantora francesa que foi interpretada por Cotillard em “Piaf – um hino ao amor”, e que deu a ela o Oscar de melhor atriz.

Os efeitos visuais são de excelente qualidade, e claramente serão indicados ao Oscar na categoria. Usados de forma moderada (mas não menos grandiosa), os efeitos sempre acontecem a pedido da história, e não ao contrário. As cenas do treino de Ariadne dentro dos sonhos de Cobb e as que envolvem o hotel sob gravidade zero, são espetaculares. Sem falar da curiosa cena do surgimento de um trem no meio de uma avenida em Los Angeles.

Ao final do filme é impossível não discutir com alguém sobre aquilo que se acabou de ver. E esse é um dos maiores méritos de Nolan, colocando inteligência e bons argumentos em um filme de ação, não deixando o pião parar de girar (perdão pelo trocadilho) em nenhum momento. Aliás, o final não poderia ser melhor para um filme desse tipo, que arrebata o público por desafiar a mente de todos nós.

A Origem é belo e instigante, um filme que já deixou sua marca no cinema contemporâneo.

Totalmente recomendado.

E se você não se lembra como chegou até a essa resenha, tente lembrar. Se não conseguir, é porque está sonhando...

Jean Carlos Bris
Enviado por Jean Carlos Bris em 14/08/2010
Reeditado em 01/09/2010
Código do texto: T2438554
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