CHICO XAVIER O FILME – RESENHA/DEPOIMENTO

Somos completamente aficionados pela magia dos filmes hollywoodianos, superproduções milionárias repletas de efeitos especiais e estórias fantásticas, sempre em cartaz no mundo inteiro. É, com certeza, garantia de diversão freqüentar as sessões sempre lotadas dos cinemas, saboreando aquela pipoca com refrigerante, uma delícia, nas modernas e seguras instalações dos grandes shoppings.

Por outro lado, sustentamos uma indústria cinematográfica que preza, tão somente, o puro entretenimento, ou seja, nos fornece diversão espontânea e sem maiores pretensões de se promover a cultura e a arte. Tudo acontece ali mesmo, no escurinho do cinema: narrativa, efeitos especiais e clímax, e não levamos nada conosco, apenas desfrutamos a magia daquelas cenas, por pouco mais de uma hora, num espetáculo fiel ao lema “mais, maior e rápido”, próprio do capitalismo, tudo ao nosso alcance, basta concordarmos em pagar os caros ingressos.

Com efeito, apreciamos muito pouco de tudo o que a sétima arte pode nos proporcionar, pois somos consumidores massificados da indústria cinematográfica e permanecemos passivos diante do lobby das empresas que privilegiam as produções americanas comerciais e de entretenimento vazio, tudo isso em detrimento, por exemplo, das produções européias, sobretudo, fundamentadas nos filmes conceituais, que criam novas linguagens e conceitos, provocam, contestam e desafiam, é o cinema como arte, de bom gosto, chamado de Cult, que não é vendido aos interesses do mercado cultural e, portanto, possui uma liberdade maior de expressão, longe das imposições capitalistas. Nem sempre são sucessos de bilheteria, mas conquistam cada vez mais espectadores e fãs, assíduos nas pouquíssimas salas que os exibem.

Apesar desta controvérsia de supervalorização dos filmes comerciais e subestimação dos considerados cults, o Cinema Nacional subsiste, alavancado por maiores investimentos governamentais e de setores privados, além da própria evolução das produções nacionais, ampliando, consequentemente, a sua qualidade e regularidade.

Neste panorama, temos sempre filmes nacionais em cartaz nos cinemas de todo o país, sobretudo as produções de cunho comercial, aquelas que priorizam o simples entretenimento, guardadas as devidas proporções, pois pesam ainda o orçamento limitado, a demanda do público, apesar de crescente, não ser muito grande e, principalmente, a concorrência com as produções hollywoodianas. Além disso, temos uma característica de produções mais voltadas para situações cotidianas, com o perfil mais humanizado dos personagens, sem tantos recursos tecnológicos empregados, nem, tampouco, o apelo aos efeitos especiais, tanto que podemos afirmar que possuímos um jeito brasileiro de fazer cinema, que tem conquistado cada vez mais espectadores e admiradores.

A sensação do momento é o longa “Chico Xavier o filme”, em cartaz desde o dia 02ABR2010, uma produção do diretor Daniel Filho que adapta para a telona o livro biográfico “As vidas de Chico Xavier”, do autor Marcel Souto Maior. É claro, eu não podia deixar de conferir a cinebiografia deste grande brasileiro, juntinho com a minha gata, de pipoca e refrigerante em mãos.

Logo nas primeiras cenas, nos deparamos com o grande carisma do médium, contextualizado num drama que pretendeu retratá-lo da infância à velhice, com enfoque no seu perfil psicológico, transparecendo um homem humilde e pacato, com um dom especialíssimo e de fé inabalável na doutrina cristã, enfrentando a ignorância, a incredulidade e a intolerância das pessoas, sem nunca desviar-se dos seus princípios e da sua nobre missão.

Ressalta-se, contudo, a intenção em se apresentar à pessoa por trás da obra, e, facilmente, constata-se que Chico Xavier viveu de acordo com a doutrina que professava, sempre louvando à Deus, sobre todas as coisas e dedicado à nobre missão de confortar as pessoas através de suas psicografias, além do próprio exemplo de homem de fé, devotado à caridade e ao enfrentamento das suas próprias limitações, para superar-se em prol do bem das pessoas.

É, também, notável a abordagem simples e realista com que o diretor pontua cada momento do filme, sem apelar para transcendências ou sensacionalismos em torno da figura carismática e benigna do médium, cuja saga é repleta de controvérsias e alardes de críticos ácidos e preconceituosos, insistentes em escarnecê-lo e julgando-o como uma grande fraude.

Outro mérito do filme, talvez o maior de todos, é a perseverança na narrativa cinebiográfica da vida e da obra de Chico Xavier, pois, como vimos, a proposta não foi promover a doutrina espírita, nem apresentar dogmas ou tratar da polêmica em torno da oposição da Igreja Católica, mas, apresentá-lo como ser humano, um grande brasileiro e, ainda, o maior médium brasileiro de todos os tempos.

Apesar de apreciar esta abordagem do filme, notei a falta, sim, de uma apresentação maior do pensamento e das mensagens de sabedoria do Chico Xavier contextualizadas no filme, para abrilhantá-lo ainda mais, além de agregar uma mensagem de paz e amor, mas, sobretudo, faltou um maior ênfase na importância da caridade, pois, segundo ele mesmo disse: “Se Allan Kardec tivesse escrito que ´fora do Espiritismo não há salvação´, eu teria ido por outro caminho. Graças a Deus ele escreveu ´Fora da Caridade´, ou seja, fora do Amor não há salvação”. Porém, tudo o que foi apresentado no filme gira em torno da antológica participação dele no programa “Pinga Fogo” em 1972, na TV Tupi, quando ele respondeu perguntas acerca de temas diversos.

Mesmo assim, ao assistir o filme, vi uma mensagem dele que representou muito para mim, principalmente nesta fase difícil, em que perdi, recentemente, uma pessoa muito querida, a minha amada mãe. É muito mais do que um pedaço do meu coração que se foi, só mesmo a inspiração divina, que consola e guia, para nos confortar e nos ajudar a aceitar a vida como ela é e a entender os desígnios de Deus. Compartilharei, então, as palavras de Chico Xavier, apresentadas já no finalzinho do filme, quando era apresentado o elenco, no subir das letras, numa janela aberta no cantinho da tela:

“Quando as lágrimas refletem a nossa saudade tocada de esperança, os nossos amigos desencarnados nos dizem que as lágrimas fazem a eles muito bem, porque elas são luzes no caminho daqueles que são lembrados com imenso carinho. Mas quando as nossas lágrimas traduzem revolta de nossa parte diante dos desígnios divinos, quando essas lágrimas retratam rebeldia, elas prejudicam os desencarnados. Tanto quanto prejudicam os encarnados.”

“A sua irritação não solucionará problema algum... As suas contrariedades não alteram a natureza das coisas... Os seus desapontamentos não fazem o trabalho que só o tempo conseguirá realizar. O seu mau humor não modifica a vida... A sua dor não impedirá que o sol brilhe amanhã sobre os bons e os maus... A sua tristeza não iluminará os caminhos... O seu desânimo não edificará ninguém... As suas lágrimas não substituem o suor que você deve verter em benefício da sua própria felicidade... As suas reclamações, ainda mesmo afetivas, jamais acrescentarão nos outros um só grama de simpatia por você... Não estrague o seu dia. Aprenda a sabedoria divina, A desculpar infinitamente, construindo e reconstruindo sempre... Para o infinito bem!”

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Sugestão de leitura: NOSSO LAR, O FILME. Acesse o endereço:

http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdefilmes/2504095