Salve Geral
No fim de semana do dia das mães do ano de 2006 não há um paulistano que não se lembre do pânico que os ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) geraram na população. O novo filme de Sérgio Rezende - Salve Geral - aborda justamente esse período marcado por muita violência e medo.
O interesse em conferir o mais novo drama nacional ganhou um gás novo com o anúncio de que o longa-metragem está na disputa para ser um dos indicados ao Oscar 2010. Assim como no filme anterior de Rezende (Zuzu Angel), o fio condutor é a preocupação e procura de uma mãe - muito bem interpretada por Andréa Beltrão - por seu filho, interpretado pelo jovem e competente ator Lee Thalor.
Após se mudarem para um bairro suburbano, devido à dificuldades financeiras, a vida de professora de piano Lúcia (André Beltrão) e o seu filho Rafa (Lee Thalor) mudam completamente quando ele comete um homicídio por acidente, sendo preso em flagrante, e passa a conviver no presídio com os integrantes do PCC.
Em uma de suas visitas ao presídio, Lúcia conhece a advogada Ruiva(Denise Weinberg), que na verdade integra o Comando. A mãe de Rafa passa a realizar pequenos favores, a entregar encomendas para dos presidiários do PCC e acaba se envolvendo emocionalmente com um dos líderes do movimento. A grande falha do filme está justamente nesse ponto. Lúcia em nenhum momento questiona o que a Ruiva lhe propõe, assim como não há sequer nenhuma preocupação ética e moral quanto à sua relação com o preso, conhecido como o Professor. Rezende reduz o envolvimento de Lúcia com PCC de um modo muito mecanicista. Atribui-se esse atitude ao seu desespero em tentar tirar seu filho da prisão, o que tornou vulnerável sua incorporação ao sistema criminoso.
Acredito que o que contribuiu para Salve Geral ter superado outras nove produções nacionais na disputa por uma indicação do Oscar foi o seu roteiro. É o grande trunfo do filme. Muito bem elaborado, ágil e que soube contextualizar os motivos que levaram aos ataques violentos. Rezende construiu um drama policial sem fazer uso de muitas cenas de violência e sem perder o bom ritmo que permeia o longa.
As atuações são outro ponto forte. André Beltrão e Denise Weinberg estão inspiradíssimas e Lee Thalor está ótimo. O que não torna Salve Geral acima da média é o fato de não ir além dos conhecidos acontecimentos. As discussões morais são muito tímidas. Os melhores diálogos ficam por conta de Rafa e o seu companheiro de cela Xizão (Michel Gomes). Duas das cenas mais representativas ficam por conta dos dois. A primeira é quando Xizão mostra o manifesto do partido, no entanto Rafa alerta para um erro de concordância e Xizão conta que não é pra mexer no texto porque o PCC quer assim e o correto vai passar a ser daquele jeito. Em outra cena, ao ser questionado sobre sua fé nos ideais do partido, Xizão adverte - Se eu não acreditar nisso eu vou acreditar em quê?
Rezende consegue construir muito bem o caldeirão em ebulição que se transformou a capital paulista, aliada a intensa e competente trilha sonora do estreante em cinema Miguel Briamonte. Porém, o filme em si pouco acrescenta a filmografia sobre esta temática já abordada exaustivamente pelos cineastas brasileiros que é a violência urbana. Uma história muito bem contada, mas que não se propõe a alçar voos maiores.
Nota: 7,0
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