Anticristo

Lars Von Trier nos apresenta uma obra nada convencional, em que o produto final não pode ser analisado isoladamente. Para compreender o contexto da produção do mais recente longa-metragem deste brilhante cineasta é importante ter em mente que o filme foi concebido e concretizado no momento em que o diretor sofria de depressão, o que justifica alguns aspectos relevantes do filme.

* Sofrimento, dor, desespero e angústia. Tudo isso em doses nada homeopáticas. De luto pela perda do único filho, casal se isola em uma cabana na floresta a fim de se recuperar desta tragédia. Eles só não esperavam que a natureza humana iria mostrar a sua força. "A natureza é a igreja de satã", como o próprio personagem afirma.

Com um visual rebuscado e o uso abundante de símbolos, Lars Von Trier produz uma obra atípica e angustiante, que revela de modo mais acentuado o que ele já mostrou em filmes anteriores - os sentimentos mais sórdidos e repugnantes que o ser humano é capaz de possuir.

O prólogo é o grande trunfo do filme. Belíssimo tanto visualmente quanto em significados, e que dá a ideia perfeita do que está por vir - uma trama densa e complexa. Os cortes e os enquadramentos nada casuais dão um toque todo especial ao belíssimo trabalho estético. A câmera trêmula - característica marcante do diretor - aparece a partir do segundo ato revelando o caos interior dos personagens.

Em Anticristo o antagonismo é o fio condutor da trama: bem e o mal, céu e o inferno, claro e o escuro, mulher e o homem, direita e a esquerda. Algumas cenas chegam a ser grotescas de tão fortes que são. Tudo isso para apresentar o homem como tão animal quanto os outros bichos que aparecem no longa. Essa comparação fica evidente quando o personagem ouve um animal se comunicando com ele, em uma frase que resume e encerra o ato.

A dualidade existente na vida fica evidente na cena final, quando não se sabe se o personagem está a caminho do inferno ou se trata da salvação de sua vida, que se transformou em um inferno. Um filme extremamente simbólico e forte, que embora tenha suas qualidades, não é dos melhores trabalhos de Trier.

Nota: 7,0

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