Coração Vagabundo

A história de Caetano Veloso é facilmente confundida com a própria história da música popular brasileira. Desde quando ele surgiu no palco do III Festival da Internacional da Canção, promovido pela Rede Globo, Caetano tem se mostrado um ser polêmico e cosmopolita.

Mas antes de tudo, este documentário que chega às telas de cinema todo o Brasil é um visão humana e leve desta personalidade tão marcante e representativa da nossa música. "Coração Vagabundo" não é um documentário sobre a vida e carreira do santoamarense mais famoso. O mais recente trabalho do jovem diretor Fernando Grostein Andrade nos mostra um Caetano mais humano e divertido, embora esse caráter intimista do artista não seja bem trabalhado em alguns momentos e perca o tom em outros.

As filmagens ocorreram durante a turnê do disco "A Foreign Sound", em que Caetano viajou por Nova Iorque, Tóquio e Quioto, no ano de 2003. Como as imagens já estavam prontas, parece que o roteiro foi estruturado em virtude do material disponível e não o contrário. Por conta disso, alguns assuntos como a vida em Santo Amaro e a separação com Paula Lavigne não são devidamento abordados e aprofundados. São dadas apenas algumas pinceladas sobre os mais variados assuntos da intimidade do filho de Dona Canô.

É preciso respeitar o que a gente espera de uma obra e o que o diretor se propõe a nos oferecer, mas uma proposta limitada fatalmente resulta em um produto aquém do seu potencial e que não nos acrescenta muito. O argumento de "Coração Vagabundo", que curiosamente possui as mesmas inicias do seu autor, é simplesmente a intimidade e o modo de viver despretencioso de Caetano, como mostra a primeira cena do filme, em que através da porta entreaberta o espectador vê Caetano nu no banheiro.

Alguns depoimentos evidenciam o cosmopolitismo de Caetano, como do cineasta Pedro Almodóvar que fala sobre o aparecimento do cantor brasileiro no filme "Fale com Ela" cantando a música "Cucurrucucu Paloma" e do cineasta Michelangelo Antonioni, visivelmente emocionado, após Caetano ter citado uma das cenas do seu filme "Profissão Repórter".

Os sessenta minutos do documentário passam rapidamente, nos oferecendo uma visão nada convencional de um dos ícones da música brasileira. A obra audiovisual pode ser facilmente confundida com um conteúdo extra de um DVD. Não tem o peso de um documentário, nem nos oferece uma leitura consistente sobre o músico. Quem por acaso não conhecer o trabalho de Caetano e se deparar com esta obra terá dificuldade em reconhecê-lo como o artista brilhante que ele é.

Nota: 7,0

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