Em Nome do Pai e do Poderoso Chefão!
Assim dessa maneira, nêgo, o mundo não agüenta!
No ultimo fim de semana, bateu uns ventos nostálgicos... sei lá deve ter alguma coisa a ver com a chegada do outono... Mas enfim, o fato é que mesmo com tanta estréia nas telonas, nenhuma delas me chamou a atenção. Resolvi passar na locadora em busca de companhia pra madrugada que, a deduzir pela insônia dos últimos dias, seria mais uma vez longa. E foi longa mesmo... Coppola que o diga. Aliás, ele, o Marlon Brando, o Al Pacino, o De Niro e uma pá de outras estrelas... É, eu estava bem acompanhado! Revi a saga mafiosa do Poderoso Chefão, Don Corleone, mas não, nem adianta insistir. Eu não vou comentar o filme...
Não é por nada não. É que eu não me sinto habilitado pra tanto. Filmes tão espetaculares como esses merecem um colunista melhor... Fica aí pros companheiros de coluna o ofício.
Mas então, sobre o que eu vou escrever? Não sei. Sei que no outro dia eu voltei à locadora, ainda imbuído do espírito nostálgico, e peguei (talvez por alguma ligação maluca que o cérebro fez por ainda estar cheio de God Father) In the name of the Father (Em nome do Pai – Irlanda/Grã Bretanha/EUA, 1993) de Jim Sheridan com Daniel Day-Lewis, Emma Thompson, Pete Postlethwait, John Linch, Corin Redgrave.
Lembro de ter ficado comovido na época em que assisti ao filme pela primeira vez. Pensei semanas a fio nos Irlandeses sempre com o Bono cantando... Pô, aliás, o que é a trilha sonora desse filme? Pra começar, além do Bono, tem dois Bobs, um é o Marley, e o outro... Sem comentários: o sobrenome Dylan lhe diz alguma coisa? Pois é. Quer mais? Então tá. Tem também Trevor Jones, The Kings e ninguém mais ninguém menos que Jimi Hendrix! A geração “paz e amor” não tem do que reclamar.
Revendo a história de Gerry Colon, um pequeno delinqüente nos difíceis anos 70 em Belfast, e sua luta contra uma das maiores injustiças que a Grã-bretanha conheceu, eu pude perceber que minha comoção a época não era mera empolgação adolescente... O filme é ótimo! Cenas lindas como uma em que todos os presos, em homenagem ao morto, jogam de suas celas papéis queimados na escuridão. O Daniel Day-Lewis também tem uma atuação impressionante...
No filme (baseado em fatos reais), Gerry é mandado por seu pai pra Londres, a fim de não se meter em encrenca com o IRA (exército republicano irlandês) e lá é acusado e condenado injustamente à prisão perpétua, junto com outros três jovens irlandeses, por um selvagem atentado terrorista a um pub, o Guildford Pub, em 5 de outubro de 1974. O fato marcou a história do conflito “católicos versus protestantes” naquele país.
Teríamos o típico caso de lugar errado na hora errada, não fossem dois agravantes. Primeiro que os acusados foram torturados pra confessar e, segundo que, devido a uma legislação britânica e todo um clamor social, a família de Gerry (o Pai Guiseppe, a tia Annie com seu marido e filho de apenas 14 anos!) também foi presa como cúmplice.
Fora os conflitos sócio-políticos, o filme realça bem o confronto familiar entre pai e filho que têm visões diferentes quanto a condução da luta por justiça. Há a prevalência de uma resistência pacífica quase ao estilo Gandhi: Gerry descobre, aos poucos que há, por trás de uma aparente fragilidade do pai, uma enorme força interior e sabedoria e que isso pode ser mais eficaz do que parece.
É. Parece que eu tinha mesmo motivos pra ficar comovido... Como fiquei de novo agora no final do filme... Ou será que foi essa nostalgia de outono? Nossa! O filme é de 93! Faz tempo! O Bono nem era gordo... Cara, o Bono tá gordo! E é uma pena que Sunday, bloody Sunday, ainda seja atual... e com um status mais globalizado agora na era Bin Laden! Pobres irlandeses, pobres árabes, pobres americanos, pobres de nós...
Não, não quero fazer o tipo “naquela época é que era bom”, mas, pelo menos na época do Corleone, Al Capone e companhia, não havia meninos-bomba ou meninos do tráfico e coisas como família ainda tinham lá seu valor; além do que, sinceramente, os bandidos tinham muito mais classe!
(Publicado no Portal Cultura de Comunicação disponivel em:http://www.portalcultura.com.br/clube/cinema/index.php)