“O amor não tira férias” (The Holiday)
“O amor não tira férias” (The Holiday)
Maria Olímpia (e é a segunda vez que digo isso), está absolutamente certa quando atesta o valor dos roteiristas de Hollywood.
“O amor...” é um pequeno tributo a essa categoria. E mostra que a grande diferença reside nas pequenas coisas. Ou antes, é feita por pequenas coisas. Também é uma alfinetada, com pelica, nos parâmetros da atual indústria de filmes. Também é um tributo à magia da trilha sonora, e Jack Black te dá uma pequena aula a respeito, em plena Blockbuster. Nada nos tributos é opressivo. Tudo é diminuto, mas não diminuído.
Achei curiosa a classificação indicativa do filme: não recomendável para menores de 10 anos. Quantas crianças dessa idade assistem a duvidosamente recomendável novela das 8?
Comédia romântica é a decodificação oficial para uma história que não arranca gargalhadas mas que leva a sorrir, e o romântico fica por conta de um clichê que ouço desde os 15 anos: o amor está dentro da gente, os outros são um pretexto. Mas “The Holiday” reserva uma restrição explícita: cuidado com os vampiros. Porque os vampiros não dão, eles tiram. Eles percebem que a sua fraqueza é o amor, e então sapateiam em cima. Não pedem por favor e não dizem obrigado. Sim, os carentes são os otários, porém deles será o reino das imagens. Me diga uma coisa: depois que tudo passa, o que é que resta, além das imagens?
Cameron Diaz nunca interpreta a si mesma, é só vê-la naquele filme com a Julia Roberts, “A noiva do meu melhor amigo”, onde ela atua como a abestalhada apaixonada, e depois conferi-la em “Num domingo qualquer”, do Oliver Stone, como a fria e implacável empresária do ramo esportivo. Não acho ela pouca coisa. Semana passada estava na capa de uma revista, brincando de Madona. Quem pode manda, quem tem juízo aprecia.
Kate Winslet é biscoito fino. Ambas trocam de casa pela internet, e aquele monte de clichês vai desabrochando e mostrando surpresas em boa medida, que desenham sorrisos num mundo onde o namoro “do bom” aparece na TV, com a namorada executada. Desliga a TV e liga o DVD. A verdade não está na primeira e nem no segundo. Mas o segundo, pelo menos, e nesse caso, é doce como a vida deveria ser. Nem sempre é. No âmbito das telinhas, pelo menos, pode-se optar.
Jack Black vai construindo sua história, “tijolo por tijolo num desenho sólido”.
A dona da construção é Nancy Myers. Mão firme e coração leve.
Roteirista e diretora, a estrada dela não dá a volta no quarteirão mas deu nó em pingo d‘água. Filmes da Nancy: “Alguém tem que ceder”, “O que as mulheres querem”.
Eli Wallach tem um papel em alto relevo como o decano da velha Hollywood, (da qual ele participou e fez história, em “Os desajustados”, “Sete homens e um destino”, etc.) e o que ele oferece para uma das mocinhas (Kate Winslet), vai contra tudo que se supõe que uma mocinha não queira, no parâmetro “oba, oba, já tirei a roupa”. É o xis da trama, ainda que não se trate de uma grande trama, nem de um grande xis. Ele oferece, contudo, sabedoria californiana com um mais que suave molho tibetano.
Tem uma hora em que ele diz para ela: você está fazendo o papel da melhor amiga, e não da atriz principal.
(Qual da duas você quer ser, na sua vida?)