COWBOY BEBOP volume 1: histórias avulsas

COWBOY BEBOP volume 1: histórias avulsas

Miguel Carqueija

 

Acredito que na maioria das vezes um mangá gera um animê, às vezes porém, lá no Japão, fazem primeiro o seriado de animação. A mangaká Yutaka Nanten elaborou o mangá com a supervisão de Shinichirou Watanabe, que criou o desenho original. As histórias porém são diferentes e o mangá ficou mais na parte cômica, quando na verdade o animê em 26 episódios por trás do humor conta uma história triste e sombria, com desfecho trágico. Isso não transparece nas histórias avulsas do mangá.

 

Resenha do mangá “Cowboy Bebop”, volume 1. Editora JBC, São Paulo-SP, sem data. Editora Kadokawa Shoten, Tóquio, Japão, 1999. Tradução: Arnaldo Massato Oka. Por Yutaka Nanten e colaboração de Hajimo Yatate, Shinichirou Watanabe e Studio Sunrise nº 2.

 

“Pois é, o espaço sideral é pequeno demais...”

(Jet Black)

 

A qualidade gráfica e até literária deste mangá é claramente inferior ao desenho animado. Quem conhece a série sabe que gira em torno de anti-heróis: Spike Spiegel é um ex-gangster da máfia chinesa (já existente em Marte), Jet Black um ex-policial que perdeu um braço e usa um mecânico, Faye Valentine uma vigarista e Ed uma garota nerd e “hyppie”. Só o cachorro Ein pode-se dizer que é inocente.

Como no animê, os títulos dos capítulos são títulos de números musicais e bandas. Este volume 1 apresenta dois capítulos: “It’s showtime” (É hora do espetáculo) e “We will rock you” (Nós vamos balançar você). Na primeira história o grupo, como de hábito, está passando fome, o que sempre acontece quando ficam algum tempo sem capturar criminosos, pois são caçadores de recompensas (“cowboys” conforme o jargão da época), utilizando a nave Bebop — isso num tempo em que a Terra foi praticamente abandonada e o principal da civilização se transferiu para Marte.

Nessa situação famélica os três saem à caça e, visando alvos diferentes, acabam se encontrando por acaso num restaurante. Terminam achando um alvo mais valioso. A propósito, não há muita lealdade entre os três, embora dividam a mesma nave.

A segunda história, mais escrachada, passa-se numa penitenciária, onde Spike arranja de ser preso para encontrar um sujeito que lá está detido mas cuja cabeça foi posta a prêmio. Spike tem a surpresa de descobrir que o seu alvo é um travesti, o que gera cenas constrangedoras ao serem colocados na mesma cela (convém lembrar que não é história para crianças).

Infelizmente a adaptação em mangá a meu ver banalizou a série tirando o substrato de seriedade do enredo básico, que não é o de uma comédia pastelão (apesar da aparência de comédia) ou até de chanchada, mas altamente dramático e trágico.

 

Rio de Janeiro, 30 de novembro de 2021.