A FAZENDA DAS COTOVIAS (O Genocídio Armênio)

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A “Fazenda das Cotovias” (em italiano “La Masseria delle Allodole”), foi tirado do romance homônimo escrito por Antonia Arslan, acadêmica italiana de origem armênia e direto pelos cineastas Paolo e Vittorio Taviani. A produção, além da Itália, envolve Bulgária, França, Reino Unido e Espanha. Apresentado pela primeira vez na Itália em 2007, narra eventos reais protagonizados por uma família armênia na época do genocídio de 1915.

O filme inicia numa cidadezinha da Anatólia, na casa da abastada família armênia Avakian com a morte do ancião patriarca Hamparzum que, poucos segundos antes de falecer, tem uma terrível visão premonitória: um esguicho de sangue humano mancha a parede do quarto. Em vão o moribundo se dirige a um dos netos que estava perto proferindo uma única palavra “Fujam!” antes de fechar os olhos para sempre. A criança não entende o significado da mensagem e, apesar da dor da perda, o filho menor Aram prepara a cerimônia fúnebre convidando não apenas os outros correligionários, mas também alguns turcos, incluindo o coronel Arkan, chefe da guarnição local, na esperança de que os conflitos anteriores entre turcos e armênios sejam superados e que uma relação de respeito mútuo possa ser estabelecida entre as duas comunidades. O funeral oferece a oportunidade para a bela Nunik, filha de Aram, (interpretada pela atriz espanhola Paz Vega), de ver o seu amado, o oficial turco Egon (interpretado pelo italiano Alessandro Preziosi). Este último, embora pertença à organização denominada “Jovens Turcos”, não compartilha de suas posições anti-armênias e planeja fugir para o exterior com Nunik.

Enquanto isso, o irmão maior de Aram, Assadur, que é médico a Padua, na Itália, se prepara para enfrentar uma longa viagem para encontrar o irmão caçula que, mais ligado às tradições familiares, preferira não se afastar de seu povo e de sua cultura ancestral. Pelo contrário, Assadur, mais fascinado pelo mundo ocidental, havia largado a família quando tinha apenas catorze anos para estudar medicina a Veneza. Depois de tantos anos de separação, os dois irmãos resolvem se encontrar novamente e, portanto, Aram manda preparar e mobiliar a “Fazenda das Cotovias” para receber dignamente Assadur e a sua família, ainda ignaro que as fronteiras estão sendo fechadas e os líderes dos Jovens Turcos já têm planejado o extermínio de toda a população armênia do Império Otomano.

Aram organiza uma festa para a inauguração da nova morada rural convidando também o coronel Arkan que, informado por seus superiores do iminente massacre, prefere não se apresentar e enviar a esposa. Durante a festa Nunik e Egon se encontram e o jovem oficial se declara disposto a desertar para conduzir a amada fora do País. A moça, embora titubeando, aceita a proposta, mas o plano fracassa devido o pedinte turco Nazim (interpretado pelo ator israelense Mohammad Bakri) referir tudo ao coronel, o qual convoca Egon e o obriga a partir imediatamente para a guerra sem nem saudar a amada.

Em breve a situação precipita e um destacamento de soldados turcos invade a casa da fazenda exterminando todos os homens, começando por Aram que é decepado, e o seu sangue mancha a parede exatamente como na terrífica visão de seu pai. O coronel Arkan, horrorizado diante de tanta crueldade, parte com um pelotão de soldados a cavalo para, pelo menos, salvar a família Avakian, principalmente um cirurgião que lhe havia salvado a vida, mas quando chega na fazenda os homens estão todos mortos, inclusive os meninos. Apenas o médico, terrivelmente evirado, ainda está vivo e ao coronel nada resta a fazer se não dar o tiro de misericórdia para abreviar os sofrimentos do profissional. De toda a numerosa família sobrevivem apenas Nunik, outra mulher, duas meninas e o pequeno Nubar, que Nunik havia vestido com roupas femininas. Vendo de longe os efeitos terríveis da sua ação, Nazim, que havia acompanhado os soldados até à fazenda, se arrepende e declara ele mesmo ser armênio na esperança que uns soldados lhe atirem, mas é reconhecido e ninguém lhe faz nada. Em seguida, ele se encontra com a grega Ismene, amiga da família Avakian e, juntos, planejam fazer algo para salvar as mulheres e as meninas que são obrigadas a partir para o deserto, continuamente estupradas, torturadas e assassinadas pelos militares turcos. Uma das cenas mais arrepiantes mostra uma prisioneira que acaba de dar à luz um menino, e um oficial se aproxima para matá-lo deixando, todavia, à jovem mãe a liberdade de ser ela mesma a tirar a vida do inocente que é sufocado com a ajuda de outra mulher.

A notícia dos massacres chega a Assadur que organiza logo uma viagem para tentar salvar os seus parentes e os Armênios em geral, mas chega a notícia que a Itália acabou de entrar em guerra contra a Áustria e, não tendo como chegar na Turquia, aliada da Áustria, tem que desistir. No entanto, vende seus títulos, troca tudo em libras esterlinas que esconde em dois grandes livros que são entregues a uma pessoa conhecida pelo Cônsul espanhol na cidade de Alepo. Durante a longa marcha as mulheres são dizimadas pela fome, sede, violências e doenças. As que tentam fugir são crucificadas ou queimadas vivas. O grupo, cada vez mais minguado, chega na cidade de Alepo onde Nazim solicita o suporte da irmandade dos pedintes da cidade que, em troca de muito dinheiro, prometem de auxiliar a fuga de umas prisioneiras.

Ismene, à qual a família Avakian havia entregue as joias, as oferece ao chefe dos pedintes, mas mesmo assim ainda o valor é insuficiente. Então Ismene resolve buscar a ajuda do Cônsul espanhol que já está na posse das libras enviadas da Itália por Assadur. A fuga é organizada, mas, devido a volta antecipada do comandante, está no ponto de fracassar. Somente a pronta ação de Nunik, que começa a cantar, desvia a tenção dos militares e, enquanto isso, a outra mulher e as três crianças conseguem fugir. Nunik é presa e amarrada a uma estaca para ser queimada viva antes de ser decapitada. Todavia, o sargento Yasuf que estava se apaixonando por ela, a mata antes que seja brutalmente torturada.

O filme termina com as três crianças sozinhas a bordo de um navio em navegação para Veneza. Em seguida, a cena final mostra o sargento Yasuf num tribunal de Istambul se auto-acusar pela morte de Nunik revelando, ao mesmo tempo, o horrível massacre perpetrado contra os Armênios.

Se, de um ponto de vista artístico, o filme deixa muito a desejar, por outro lado tem a imensa qualidade de ser um dos pouquíssimos filmes a tratar e denunciar o genocídio armênio, crime contra a Humanidade, do qual, nessa triste época de negacionismos quase não se fala e que ainda hoje o governo da Turquia não reconhece.