Memórias em decomposição - Uma perda
Como em todas as noites anteriores, pelo menos nas últimas noites, a rotina era a mesma, uma leitura, pequeno trecho de um livro espírita da coleção “Ah se eu soubesse”. Essa era a forma de tentar entender a perda, de buscar uma paz interior. Só que naquela noite foi diferente. Não sei ao certo onde começa a imagem, mas lembro de fazer uma oração e deitar, uma pequena luz vindo da rua atravessava a janela deixando ver o quarto em penumbra. Estava deitado olhando o forro do quarto, quando percebi que poderia tocá-lo, mais do que isso, estava transpassando logo me via na parte de cima do telhado, ao olhar de lado para parte de baixo, pude perceber as luzes do bairro, sentia o ar frio. Já alcançava a parte mais escura do espaço, olhei novamente e via o planeta distante, o frio aumentava sentia dores no corpo e pensei que poderia morrer. Via outras estrelas estavam bem próximo, um silêncio absoluto e o corpo congelando. Fechei os olhos e pedi para voltar, não queria continuar subindo, tudo parou por um instante e ao abrir os olhos comecei a cair rápido muito rápido sentia o vento nas costas, vi o planeta se aproximar em segundos, atravessei o telhado tão rápido que senti o corpo dormente ao retornar, abri os olhos e senti como se tivesse caído nela. O coração batia forte. Não consegui dormir mais naquela noite. O sonho foi tão real, que até hoje eu não sei se realmente eu dormi ou se por alguns instantes morri de saudades.