50 anos num dia que passou
Nem todo meio século é um meio século...
Algum dia é como um meio século pesado e carrancudo...
O solitário despertar sonolento do sentinela, pós noite turbulenta
o leva qual uma tabuleta, para o outro lado do caminho...
contemplando o desfecho esmaecido de um cortejo com tons
acinzentados e fúnebre, acalentando uma vida que passou despercebida...
... noite turbulenta pós dias minguados peregrinados à sombra das
labutas nada criativas, desprovidas de esperanças e ilusões...
Folhas de outono e o soluçar dos salgueiros embalados pelos voos noturnos das corujas famintas que vieram e foram...
O doce do mel inacabado, saqueado das colmeias prematuras
preservada por rochas protetoras.
Um mistério que não fora desvendado, peguntas que não foram respondidas...
Batalhas que não foram vencidas, curiosidades ignoradas...
Cabelos não afagados e dia sem sol...
O lento cortejo apaga os rastros do estandarte esguio que declara:
"Aqui
JAS
MIM,
palmilhei
caminhos desventurosos
exalando fragancia
que suavemente cantam
sonetos da historia
que sonhei."
O sentinela interroga reflexivamente seus botões:
- De quem será esse fúnebre cortejo sem defunto? Será de alguém que
morreu e não viveu?
Pensamentos esmaecentes surgem e se escondem:
"A vida é uma ilustre visita, que ao partir e distante, após o ultimo aceno iluminado por um ténue sorriso, nos faz perceber o quão pequena e frágil ela é."
O sentinela suspira e "chorominga":
"Meio século não é mais que um dia que passou...
Assistir não é viver... Viver é fazer um dia se estender a um meio século... pena que aprendemos isso no fim."
O sentinela acordou de suas divagações reflexivas.
- Onde está o cortejo? O que estou fazendo aqui? Meus cabelos?
Meus cabelos. Meus cabelos esbranqueceram.
Sam Nantes - 2013