O Carioca e o Caipira no Sr Brasil em 26/08/2011. Comentário crítico de J B Pereira em 27/07/12.

Trata-se de uma entrevista de Rolando Boldrin aos artistas Marcio Coelho (ao violão) e Ana Faveretto (cantora) no programa Sr. Brasil.

A cantiga caipira é o veículo cultural cujo alcance se insere na versatilidade linguística. O sotaque do povo brasileiro varia de norte ao sul deste imenso Brasil.

O personagem evocado é o estudante de linguística e é cariosa, que admira a vida do caboclo. E de modo culto e erudito, sem o sentimentalismos da certas canções sertaneja, o propósito mistura vários estilos e recursos vocálicos. O leque de expressões e palavras vem à tona à medida que se entrelaçam elegante e curiosamente ao resultado inesperado de uma referencialidade aos causos caipiras. A beleza do bucólico (elementos do Arcadismo) se entrecruza com elementos do nativismo e a força da linguagem do caipira cujo linguajar evoca "algo de mística" com a visualização do "modus vivendi" interiorano, contemplação viva da varanda das fazendas ou residencias em que as pessoas sentavam para conversar com seus tamboretes e cadeiras dispostas à calçadas... Deixavam-se passar o tempo em "dois dedinhos de prosa", daí a força prosódica típicas do povo brasileiro. Não importava o tema, mas a capacidade de ouvir e interiorizar expressões bem idiomáticas, com fundo moral, religioso, existencial, lógico ou não, filosófico (todo caipira é um filósofo) e, assim, fluíam-se a riqueza e a novidade semiótica (cuja expressões são encontradas na cultura caipira e sua musicalidade criativa e criteriosa). E até, ao acordeon e à viola e ao violão, e entre tantos instrumentos musicais e vozes singulares, todo o jeito peculiar do povo do interior do Brasil, a vida e fala mansa e a vida serena e sem presa... estavam lá onde deveria sempre e eternamente está, até que não a deixemos morrer (por achar talvez não erudita ou simplista por demais; mas é única e nos lembra dos nossos antepassados de saudosa memória coletiva e familiar). Não se trata de ridicularizar ou esconder nossas raízes culturais (embora não sejamos árvores, mas cultura lembra o cultivo de grãos e o cuidado pastoril). O estranhamento bakthiniano na audição audaciosa da inventividade comunicativa regionalista do falar caipira (ou caipiras em oposição talvez com o falar litorâneo, ambos se curvam à variabilidade linguística de que nosso genoma brasileirense ou brasileirano pode encerrar ou conter de viva sabedoria e infinitiva possibilidade lírica (métrica e prosódica, filosófica)... estão já consagrados em obras-primas da nossa literatura nacional (para nenhum brasileiro queixar-se de inferior e nem menosprezar diante da produção estética e ficcional internacional). Quero dizer que Guimarães Rosa já sabiamente hibridizou as fontes e códigos no regionalismo criativo do Grande Sertão: Veredas. E, nessa vereda, entendemos os modos de vida diferençados em Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto, Vidas Secas de Graciliano Ramos, Auto da Compadecida, mais O santo e a Porca e Ariano Suassuna, O Quinze, Os Sertões de Euclides da Cunha, poemas de Castro Alves, A sucuri de Mário Palmério, Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato, A Flor do Maracujá de Catulo da Paixão Cearense, só para citar o leque de opções de romances, "teatrologia" (para não falar em dramaturgia) consagrada, poesia, O luar de baião ou forró chorado em acordeons de Luiz Gonzaga, Gonzaguinha, Dominguinhos, Oswaldinho Oswaldinho (“seu talento resultou na homenagem no Museu de Reggio Emilia, na Itália e uma das mãos mais velozes do acordeon”), etc. e tal.

Deste modo, delicio-me com tanta coisa bela tão linda e sábia, simples e não menos profunda que a música, a cultura caipira e do caboclo pelo nosso lindo e regional Brasil.

Agradeço, de coração, o envio do programa http://www.youtube.com/watch?v=JtBOqIKqKCE

pela vontade educativa e aguda de Talita de Oliveira, Educadora - especialista em Língua Portuguesa - uma das exemplares formadoras de Águas de São Pedro.