ZII E ZIE: O transamba Rock de Caetano Veloso
Roberto Carlos é o nosso Frank Sinatra, Raul Seixas o Elvis Tupiniquim, Chico Buarque o nosso Bob Dylan e Caetano Veloso, pelo conjunto de sua obra e pela construção de diversas linguagens musicais, é o nosso David Bowie, e tal como ele, um camaleão.
Desde o primeiro LP individual , Caetano Veloso (1968), que contém as canções Alegria, alegria, Tropicália e Soy loco por ti América, o nosso “camaleão”, o primeiro andrógeno da MPB, “o cabra mais macho da Bahia”, sempre incorporou à sua música estilos variados, tais como Bossa Nova, samba, Pop, batuques de candomblé e experimentalismos diversos, além do ativismo político e da crítica social, nas estrelinhas, do início da carreira.
A partir de 2006, no disco “Ce”, um disco clandestino de Rock, como conceituou o próprio cantor na época, deu início a um flerte maior com esse estilo e, após vários shows e apresentações com a sua banda homônima (Cê), precisamente em 2008, na turnê “Obra em Progresso”, ele consolidou o Rock ao estilo Caetano Veloso e lançou, recentemente, “Zii e Zie” (tios e tias em italiano) , batizando as novas canções de “Transambas”, pois surgiram do experimentalismo de batidas de samba, que mais tarde foram reconstruídas para soarem no estilo Rock, ele diz, porém não soa como samba em momento algum.
Quem é o Público-Alvo de Cê e de Zii e Zie? Quem vai deixar de ouvir o Rock clássico ou a Música Popular Brasileira, para curtir o Rock ao estilo Caetano Veloso? Antes de mais nada, é oportuno ressaltar que a MPB é a referência e a alma das novas canções, conforme afirma o roqueiro (!?) Caetano na Folha Online/Ilustrada: "Quando eu penso em samba, esse disco tem um lugar central na minha mente", mas o que ouvimos são músicas curtas, baixo-bateria-guitarra, mais elétricas do que na época do Tropicalismo e menos forçadas e mais intensas do que as músicas do disco Cê.
Destaques para o estilo progressivo das canções "Perdeu" e "Por quem?", esta última cantada toda em falsetes, com um solo de guitarra caindo para o Jazz, seguido de um leve arranjo distorcido, muito legal. E, ainda, ressalto o experimentalismo da música "Tarado", o psicodelismo em "Base de Guantánamo", o Rock Alternativo em "Incompatibilidade de gênios",ouça o solo característico, lembra a banda YO LA TENGO, ícone do estilo.
Zii e Zie, conforme qualquer Rocker pode atestar, soa melhor que o Pop Rock Intimista de muitas das novas estrelas da MPB e, não menos digno de nota, superior ao Emo Pop, tipo NX0, tão nas graças da Juventude “Ipsilone”, até mesmo porque é preciso louvar a originalidade e a criatividade de Caetano Veloso, mesmo parecendo vendido à influência da cultura de massas do imperialismo americano, ou vivendo a “Síndrome do novo disco", quando se repetem as fórmulas enlatadas de sucesso do passado.Lembrei-me, agora, dos Acústicos I e II, dos Titãs e dos Engenheiros, e do "Anos 80 I e II" do Biquini Cavadão, um atraso na carreira, não passaram de "Caça-níqueis", até mesmo porque não existe mais a materialidade da música, agora digital e veiculada pela internet, puro desespero.