Pronta para o estrelato
Há cerca de dois meses, aqui mesmo neste espaço, eu mencionava quão bem impressionado eu fiquei com o primeiro CD da cantora e compositora Aline Calixto, gravado pela Warner e lançado nacionalmente no dia 25 de junho. Mesmo já tendo visto seus shows algumas vezes, principalmente em festivais de música e outros eventos ocorridos em Viçosa-MG, confesso que fiquei boquiaberto com sua primeira apresentação na cidade, já dentro da turnê de divulgação do disco.
O grande público que foi ao Espaço Cultural Fernando Sabino (Centro de Vivência da Universidade Federal de Viçosa), no domingo passado, certamente teve uma impressão parecida com a minha. O que mais escutei de algumas pessoas após o show foram frases do tipo “ela está pronta”, “o Brasil tem uma nova sambista de peso” ou “Aline sempre cantou muito, mas agora está ainda melhor”.
De fato, ela subiu de um jeito diferente no mesmo palco onde já teve a oportunidade de estar noutras ocasiões, ganhando edições do Festival da Canção de Viçosa (FECAVI) ou faturando uma das etapas do Festival Telemig Celular de Música. Acompanhada de uma banda de bambas, como tradicionalmente são chamados os grandes artistas do samba, Aline ofereceu ao público um show alto astral, marcado pelo seu carisma, por uma postura profissional de quem já sabe onde quer chegar e, principalmente, por um repertório de altíssimo nível. Seja com as canções de seu CD, seja com outras pérolas de compositores já renomados, ouviu-se samba de primeiríssima!
Ainda dando seus primeiros passos rumo à autêntica fama (aquela conquistada a partir do reconhecimento natural de um bom trabalho), Aline Calixto está pronta para o estrelato. Na verdade, nem gosto muito desta palavra, já que nas artes ela tem a função de colocar pessoas em pedestais, enquanto eu sou avesso a idolatrias. Dou, então, a estrelato o sentido de um lugar especial para artistas que realmente são merecedores dele. Trata-se de uma forma de diferenciar, pelo menos na música, aqueles que têm talento das chamadas estrelas da moda, sem estrada e sem bagagem alguma.
Eu e outras tantas pessoas que acompanharam de perto a trajetória musical de Aline somos testemunhas de que nenhuma aparição dela na TV, na rádio ou em todas as outras formas de mídia que não param de destacá-la é fruto de interferências artificiais. Cada porta que ela abriu traz consigo a história de alguém que acreditou no próprio trabalho a ponto de nunca se intimidar com os obstáculos e sacrifícios que até hoje aparecem em seu caminho.
Muitos nomes importantes para a Música Popular Brasileira chegaram a ser esquecidos pela indústria fonográfica ou mesmo pela mídia, a exemplo do capixaba Sérgio Sampaio (que morreu pobre e doente) e do baiano Tom Zé (que só teve a carreira retomada por obra do acaso que fez seus discos caírem nas mãos de um músico estrangeiro caçador de talentos – o ex-Talking Heads, David Byrne). Ainda assim, eles nunca poderão ser esquecidos, pois têm uma obra consistente, de qualidade a toda prova.
É exatamente desse jeito que vejo Aline, que ainda tem muito chão pela frente, mas que já disse a que veio. Transitando com leveza e desenvoltura pelas trilhas que permeiam a velha guarda do samba e os novos talentos que abraçaram este estilo musical, ela tem cacife para completar muitas décadas de carreira.