DEFENDER O ÓBVIO

Ontem vi novamente a frase “Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio?” atribuída a Bertolt Brecht.

Pensei que ela é muito atual nos tempos que vivemos hoje, me indignei e quase parei por aí.

Quase porque depois vi o filme Seberg na Netflix e ele me provocou a pensar mais um pouco, ou um pouco mais a fundo talvez.

Daí acabei concluindo que essa frase sempre foi atual.

A história está cheia de pessoas que defenderam o óbvio.

Na maioria das vezes essas pessoas são minorias numéricas, são minorias em termos de poder, ou são minorias nos dois sentidos.

Na maioria das vezes essas pessoas são atacadas com violência e acabam pagando um preço muito alto pelo “crime” de estarem defendendo o óbvio.

A História está cheia de exemplos, em todas as épocas, em todos os lugares.

Para não me estender demais e porque não sou especialista, cito apenas alguns:

- As pessoas escravizadas da Roma antiga lideradas por um tal Spartacus defendiam o óbvio.

- As pessoas que tentaram lutar contra o domínio e as fogueiras da igreja católica na Idade Média estavam defendendo o óbvio.

- As pessoas escravizadas que fugiam para quilombos e as pessoas nos movimentos abolicionistas defenderam o óbvio.

- As feministas que, desde o século XIX foram ignoradas, desprezadas, espancadas e até mortas para que as mulheres obtivessem os poucos e frágeis direitos que temos estavam (e estamos) defendendo o óbvio.

- As pessoas que iniciaram e as pessoas que mantém e que defendem os movimentos e as lutas LGBT estavam e estão defendendo o óbvio.

- As pessoas que participaram dos movimentos estudantis que combateram a ditadura militar e que acabaram sendo torturadas ou mortas nos porões do DOI CODI estavam defendendo o óbvio.

- E nós, que desde 2016 tentamos evitar a tomada do país pelo capEtalismo ativo e pelo fascismo mal disfarçado estamos defendendo o óbvio.

Sobre cada grupo de pessoas que defendem o óbvio, as “gentes de bem” costumam levantar seus “Ah, mas essas pessoas também...”

E completam com desinformação, fatos exagerados ou mitos que não cabem de forma alguma no todo dessas lutas.

Para as pessoas que se negam a ver, ouvir e entender o óbvio e para suas consciências distorcidas, as invenções, mitos e exageros são suficientes para “justificar” ou tentar justificar as agressões, as mortes e qualquer tipo de violência que as pessoas que defenderam o óbvio sofrem.

Incluindo a tirada de direitos conquistados a duras penas e com muita dor.

Mesmo assim algumas pessoas estão sempre defendendo o óbvio...

E quase sempre sofrem repúdio, demonização e ataques.

Mas é ao lado dessas pessoas que quero estar sempre!

A única vantagem que vejo em defender o óbvio sem que me deem ouvidos é saber que não me aliei ao que há de pior.

Não é uma grande vantagem, mas é tudo que temos na maioria das vezes.

Porque, ao contrário do que dizem, o mal quase sempre vence.

Divina de Jesus Scarpim
Enviado por Divina de Jesus Scarpim em 28/06/2022
Código do texto: T7548002
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