Consciências XIV
Domingo de muita nostalgia
Teve um domingo de tarde que tomei coragem para assistir ''Pateta, o Fillme'', depois de um mês com o link guardado na caixa de entrada do meu email. Fazia muito, mas muito tempo que não o via. Desde quando o meu pai me deu esse filme de presente de aniversário, em 96 ou 97. Depois, ele deu a fita para um primo mais novo e, então, desapareceu do meu radar. Hoje, eu penso que gostaria de tê-la conservado para mim, ao menos para ter uma referência concreta daqueles tempos cada vez mais distantes mas que estão sempre tão presentes em minha memória. Bem no final do filme eu segurei aquelas lágrimas que apenas o verdadeiro sentimento pode provocar. Porque se baseia na estória de um pai, o Pateta, que ama o seu filho, Max, mas que acabam passando por conflitos de geração e de personalidade, bem parecido com a minha relação com o meu pai.
Eu apenas sei que o tempo continua passando, inexoravelmente, e que eu tenho medo de que o nosso tempo de convivência chegue ao fim mais cedo do que gostaria. O cigarro e a sua indústria do mal, parece até que já venceram essa luta. Nós brigamos com ele, por ele, mas é difícil largar hábitos tão arraigados... uma família inteira dentro do ringue contra o próprio diabo, o dinheiro e o seu fiel escudeiro, o vício.
Eu sou órfão de infância, por ter sido uma outra época, sem muitas preocupações "de adulto", sem tantas turbulências, e também porque eu tinha a certeza de que o futuro parecia um horizonte sem fim, com os meus pais sempre perto, comigo. Hoje, eu percebo que a cruel existência está acelerando os seus passos em direção àqueles momentos derradeiros, incompreensíveis e inevitáveis, de despedida. E que a minha consciência superlativa não me deixa esquecer e fingir que tudo continuará a ser como sempre e para sempre do mesmo jeito. Eu, que amo tanto a vida, não imagino apenas cenários sombrios, por exemplo, um velório daqui a alguns anos (espero que daqui a muitos anos!!!), mas também o desconforto de "compartilhar" um momento de tanta dor com aqueles parentes que viraram as costas para nós, quando mais precisamos, que falam mal de nós até hoje, com deboche, desprezo, inveja, enfim, crueldade. Eu já penso que quando for a minha vez, eu vou exigir que não tenha padre, cerimônia, nem "família". Apenas os amigos de verdade e uma vala comum.
De noite, no mesmo dia, ''engatei'' Toy Story, de 1995. Outro filme que o meu pai me deu de aniversário e que me marcou profundamente. Não preciso dizer que foi como se tivesse visto a minha vida passar naquele desenho. Também sinto por não ter preservado a sua fita. Eu a teria guardado como um tesouro pessoal. Mas, o tempo passa e quem não é tão apegado, doa. Meu pai doou-a para um outro parente (ele fez o mesmo com "101 dálmatas") e você já sabe o que aconteceu...