O filósofo, o filosofista e o fisólofo

Primeiro, o que é ser um filósofo?

O filósofo é aquele que sempre busca pela sabedoria: conhecimento ou verdade objetiva, mesmo em relação aos que pode identificar como inconvenientes para o seu conforto pessoal. Ao buscar apenas pelo que é verdadeiro, o filósofo também deve se principiar pelas verdades mais importantes, as existenciais ou absolutas, por também serem as mais básicas, até mesmo para estar sempre melhorando o seu julgamento moral, de julgar com justiça ou pela verdade.

O filósofo não precisa ser graduado em um curso de filosofia, ser professor de filosofia ou ser popularmente reconhecido como tal. Da mesma maneira que a prática filosófica não se consiste, em sua verdadeira essência, em inventar novos termos com variável relevância, escrever artigos enormes e difíceis de serem compreendidos ou, então, de ser um exímio escritor, tal como foi o Friedrich Nietzsche. Se o que mais importa é o mais simples de tudo isso, ser fiel à verdade.

Pode parecer uma absurda pretensão de minha parte, mas, eu acredito que posso ser considerado um exemplo de alguém que busca pela sabedoria ou um filósofo, de fato, principalmente por ter compreendido a importância (absoluta) da verdade em minha, em nossas vidas, e por sempre me basear nas mais importantes, as existenciais. Realmente pode parecer muito arrogante, mas o ofício de filósofo significa exatamente o oposto de orgulho, buscando ser o mais humilde e respeitoso com a verdade, evitando adulterá-la para o conforto do próprio ego. No entanto, eu ainda não poderia ser ou me considerar como um legítimo filósofo, porque não me bastaria ser fiel aos fatos, se eu também deveria colocar o que penso e concluo, em prática, lutando pela melhoria de "minha" sociedade, a partir da sanidade máxima, que se consiste a proposta filosófica. Eis aí o maior empecilho para que, qualquer um que seja coerente com a verdadeira sabedoria, consiga se tornar influente e mesmo determinante no curso da dinâmica social, cultural, enfim, existencial de nossa espécie, pelo menos a nível local, mediante o tremendo domínio das pseudo-filosofias e dos seus agentes em nossas vidas.

A segunda categoria que eu estou definindo aqui, é o de filosofista, que seria alguém que lida com material filosófico e, sendo muito comedido com o adjetivo "filosófico", porque, um bocado desse material, se tivesse que passar por um pente fino para avaliar a qualidade do seu conteúdo, seria reprovado em primeira instância. Este grupo, que também pode ser pejorativamente chamado de "filósofo de diploma", se consiste na grande maioria dos autodeclarados filósofos, que são aqueles que se formam em cursos de filosofia, que se tornam 'professores" de filosofia e ou acadêmicos versados neste tema, mas que não o praticam como deveriam, isso quando não se especializam em ideologias que, além de se passarem por filosóficas, ainda por cima a negam, em sua essência, por exemplo, boa parte das que estão alinhadas com o conservadorismo de direita. Pois se é demasiado custoso lutar literalmente em prol de uma prática filosófica sistemática, por exemplo e, a princípio, pelos direitos humanos (de maneira racional), o mínimo que um filósofo que se preste deveria fazer é o de nunca negar fatos e, também, de nunca dar desmedida importância à estética do seu pensamento do que em relação à qualidade do seu conteúdo. No entanto, a maioria dos filosofistas parece acreditar que a filosofia, em sua prática, se fundamenta em escrever teorias/ou hipóteses, inventar novos termos (com alguma ou nula significância), enfim, de pensar por pensar... Eles também estão entre os mais fanáticos por suas ideologias de aderência, se como desenvolvedores, seguidores radicais ou criadores. Daí parece que a principal diferença entre um desses "filósofos" e uma pessoa comum é que ele pensa, fala e escreve com excessivo rebuscamento, mas para dizer a mesma coisa, que ele pensa que suas opiniões subjetivas ou pessoais, vezes, parcamente trabalhadas, que estão refletidas em sua(s) ideologia(s), são verdades absolutas..

Já, em relação ao professor de filosofia, ele parece mais preocupado em falar sobre os 'filósofos" do passado e do presente, do que (tentar) ensinar aos seus alunos o que seria o verdadeiro filosofar, a prática mais importante da filosofia, que é o melhor pensar para o melhor agir, tendo a si mesmo como exemplo. Falando nisso, eu usaria como exemplo notório ou conhecido de alguém, que se encaixaria no conceito de filosofista, o Henry Bugalho, que é youtuber, escritor e sim, (autodeclarado) filósofo brasileiro. Até me atrevo a dizer que a grande maioria dos filósofos historicamente reconhecidos, incluindo nomes de peso da Grécia clássica, também cairia nessa categoria. Vale ressaltar que, apesar da característica insuficiência do filosofista quanto a respeitar e seguir a essência da filosofia, que é a sabedoria, boa parte do material filosófico de valor existente (dotado de veracidade e praticidade), têm sido produzidos por esse tipo.

Agora, os charlatães da filosofia ou fisólofos. Propositalmente, alterei a ordem das letras da palavra "filósofo" para me referir, não àquele que é insuficiente à verdadeira prática filosófica, tal como o filosofista, mas que é contrária à mesma, que age, superficialmente, como um típico filosofista, mas com intenções conscientemente malignas. E nada mais oposto à sabedoria do que a alienação da crueldade irracional. Então, o fisólofo imita o filosofista que, por sua vez, acha que segue absolutamente os princípios mais básicos/importantes da filosofia. Um exemplo notório de fisólofo seria o Olavo de Carvalho que, vergonhosamente, foi alçado (pela extrema direita) ao posto de "maior filósofo brasileiro dos últimos tempos"...

Como eu não me canso de dizer, a verdadeira filosofia é muito mais monótona e simples do que essa quantidade enorme de "filosofias" excessivamente rebuscadas, já produzidas e reproduzidas, que podem conter muitos ''insights'', mas que sempre falham no mais importante, na busca pelo equilíbrio realista da sabedoria, no pensamento e também na ação. Até, porque, muitos dos que se definem como filósofos ou, pelo menos, como entusiastas da filosofia, parecem sentir uma necessidade de usá-la como passatempo para as suas mentes hiperativas e ansiosas, mais como uma distração para si mesmos do que para a sua própria finalidade, de servir como um farol que sempre aponta para a verdade. Portanto, temos tido, especialmente a partir da ampliação do acesso à educação superior, milhares de pessoas que se especializam no ofício de escrever textos, muitas vezes, indecifráveis, chamando-os de filosóficos, não para praticarem a filosofia, de fato, e sim para gastarem ou ocuparem os seus tempos de existência com aquilo que mais gostam de fazer: pensar e registrar os pensamentos em seus escritos, além de ter outros efeitos terapêuticos embutidos tal como a promoção do aumento da auto-estima, especialmente se conquistam notoriedade em seus círculos exclusivos de intelectuais.

Mais um Thiago
Enviado por Mais um Thiago em 17/04/2021
Reeditado em 18/12/2022
Código do texto: T7234177
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