O legado da escravidão e o preconceito contra negros no Brasil

A música “Canto das três raças”, composta por Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro, evoca a gênese do povo brasileiro, destacando entre as três raças em sua misicigenação e singularidade, o povo negro, que é retratado como símbolo de resistência. De modo análogo, verifica-se na contemporaneidade que apesar da abolição da escravidão, persistem movimentos contrários ao preconceito que ainda insiste em se fazer presente na sociedade, o que demonstra a importância de se pensar sobre meios de eliminar barreiras que surgiram com o pensamento da branquitude eurocêntrica, e de reconhecer a cultura negra como parte indissociável e insubstituível da história do Brasil.

Em primeiro plano, convém ressaltar que os efeitos do racismo se expressam nas mais variadas camadas e espectros da sociedade. Percebe-se nitidamente o impacto da marginalização nos números referentes ao desemprego, à pobreza, ao analfabetismo, à vulnerabilidade legal e inclusive ao direito à vida. Uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em 2015, denuncia essa realidade, ao apontar que o percentual de negros asssassinados no Brasil, é 132% maior que o de brancos. Tais dados evidenciam que o conceito de democracia racial, propagado pelo sociólogo Gilberto Freyre, é uma utopia, e que a senzala se expande para além do imaginário coletivo e se expressa de forma incontestável no país.

Outrossim, a violência na forma como os escravos eram tratados por seus senhores, pode ser facilmente observada na atual sociedade brasileira ao se pensar a pele negra frente às instâncias de poder, visto que com a atrasada assinatura da Lei Áurea em 1888, a imagem de um país que preza pelo respeito às diferenças étnicas, não se efetivou. Na contrapartida desse discurso, os contrastes socioeconômicos se acentuaram ainda mais, e a plena inserção do negro, a cargo das autoridades, não se cumpriu. Além de contribuir com a marginalização de uma massa já anteriormente oprimida, a negação do protagonismo negro é um fenômeno que se desenrola a partir da falta de representatividade e da invisibilidade de suas heranças culturais, musicais, filosóficas, culinárias, linguísticas, literárias, artísticas, entre muitas outras.

Diante de uma conjuntura na qual o preconceito, apesar de injustificável, está presente seja de forma sutil ou escancarada, e traz consigo obstáculos estruturais em vários âmbitos, é imprescindível que o Governo Federal, retome seu programa de emissão de mais verbas destinadas às cotas raciais, com o intuito de corrigir falhas históricas de acesso às escolas, universidades e postos de trabalho privilegiados, relegados majoritariamente aos brancos. Com o intuito de, a partir da base, reeducar a sociedade, começando por aqueles que mais sofrem com a situação, e para que a partir do conhecimento acerca de sua condição, possam com instrução reverter as circunstâncias e transformar o meio em que vivem.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 07/03/2021
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