Autoconsciência, abstração e linguagem

Hipótese tresloucada

O ato primordial da consciência é a constante autoprojeção do sujeito, por seus sentidos, aos ambientes em que está. Por exemplo, nesse exato momento, estou projetando minha visão (a mim mesmo) para reconhecer o meu quarto, os elementos que estão nele bem como o período do dia (está de noite).

Então, o ato primordial da autoconsciência é a percepção do sujeito quanto à sua própria individualidade e consequente//constante autoprojeção da mesma aos ambientes em que está.

Primeiro, nos percebemos como indivíduos (autoconsciência). Então, projetamos o que basicamente percebemos sobre nós mesmos aos demais elementos, derivações (comportamentos) e fenômenos.

Exemplo:

"Se eu reconheço a pedra como um elemento individual, é porque, antes, eu me reconheço como um indivíduo. Em outras palavras, eu projeto o que essencialmente percebo//sinto de mim mesmo sobre os outros elementos."

É a partir daí que passamos a abstrair ou isolar e a manipular mentalmente elementos, comportamentos e fenômenos que percebemos ou com os quais interagimos, resultando no pensamento abstrato.

Até penso se a autoconsciência não poderia ser considerada como uma espécie de sentido...

Em contraste às criaturas autoconscientes, minha gata, meu alvo charmoso e preferencial de observação, projeta de si suas vontades e impulsos instintivos sobre os elementos, fenômenos e comportamentos com os quais interage, transformando-os, também como a sua imagem e semelhança, mas não como indivíduos e sim como meios para as suas ações.

Exemplo:

"Se ela reconhece uma pedra no chão, não a reconhece como um elemento individual e sim como um meio para uma ação sua, 'brincar' com a pedra"

Ela percebe sensorialmente a pedra mas, mental ou intelectualmente, não a concebe como uma pedra por si mesma, mas como um meio pra sua ação ou vontade no momento.

Eu a percebo como um indivíduo igual a mim.

Ela me reconhece como um meio igual à ela mesma, que é um meio pra suas próprias ações ou expectativas de reciprocidade, o carinho que dedico à ela, por exemplo.

O ato de pensar, de produzir e escutar a tal "voz interior", compulsórios ao ser humano, reforça a consciência do "Eu". Eu posso pensar ou calcular ações mesmo sem ter qualquer intenção de praticá-las. Em contraste, tenho constatado que a minha gata não pode pensar sem que já esteja preparada para agir. Isso é agir por impulso. Também agimos assim, alguns mais que outros. Sua atividade mental parece estar significativamente associada às suas ações instintivas.

Um dos aspectos centrais da autoconsciência é a capacidade de introspecção, do/indivíduo pensar sobre si mesmo, sobre seus comportamentos, de repensar os próprios pensamentos. Essa ação lhe parece impossível de conseguir porque, a priori, não é diretamente objetiva. Do "se penso, logo ajo". Se o que mais define o instinto é a indissociação entre calcular uma ação (pensamento) e de se praticá-la.

Uma provável diferença de nossa espécie em relação às outras, é que apresenta uma divisão de trabalho bem demarcada entre mente e corpo (ou sistema nervoso central e periférico), resultando na possibilidade de separação significativa mas, não, totalmente, do núcleo de sua consciência, o "Eu", em relação à sua "periferia" (instintos e reações particulares). Não é à toa que a minha gata é tão fisicamente ágil e que eu seja tão intelectualmente constante. O corpo dela é sua arma de sobrevivência, enquanto que a evolução humana tem se concentrado no cérebro e nos membros superiores para a mesma e básica ação.

Até gosto de pensar, metaforicamente, na autoconsciência humana, como uma célula eucariota, por se basear na separação predominante do núcleo da mente, ou individualidade, em relação à sua periferia de instintos (''material do citoplasma''), enquanto que, para os demais seres vivos, suas consciências seriam mais do tipo "procariota", porque não há nítida diferenciação entre o núcleo, o eu (o que eu sou) e a periferia da consciência (o que eu faço).

A linguagem humana emergiu dessa capacidade de projeção da autopercepção de individualidade aos elementos concretos e derivados, se palavras e números são símbolos que visam justamente individualizá-los: identificar, demarcar, categorizar o que, na realidade, existe solto e "descategorizado", ainda que diverso. Com o aumento da capacidade de armazenar informações ou do potencial de memória, mais a sofisticação mecânica da fala, nomear ou identificar elementos, comportamentos e fenômenos, foi se tornando significativamente necessário para/os seres humanos. De grunhidos apontando para as "coisas" e onomatopeias imitando sons para nomes individuais ou palavras.