Os desafios omitidos pelas películas

O filme “A invenção de Hugo Cabret”, ambientado em Paris, o berço da linguagem cinematográfica, retrata o embrião das produções em um contexto de efervescência cultural, no qual é nítido o impacto da estratificação social no acesso aos meios de entretenimento propiciados pelo desenvolvimento tecnológico. De modo análogo, persiste no Brasil contemporâneo, a elitização dos canais de expressão artística de modo geral, e a errônea ideia de que o cinema não é um elemento moldador de valores sociais.

Apesar do preconceito existente em relação à importância da veiculação de filmes, dados da Agência Nacional do Cinema evidenciam que vêm crescendo nos últimos anos, a presença das classes menos abastadas e a inserção de grupos minoritários em salas de cinema e nos círculos de discussão acadêmica. Desde o período em que o Brasil esteve sob um regime ditatorial marcado pela censura dos meios de comunicação, o cinema não é encarado a partir de uma perspectiva positiva, o que pode ser observado no incentivo à produção massiva de filmes com finalidade comercial, enquanto que as produções de viés cultural direcionadas a todos os segmentos populacionais foram amplamente reduzidas e consideradas más-influenciadoras.

Com o advento da industrialização, os centros urbanos passaram a gerenciar a vida econômica, política e cultural. Desta forma, camadas rurais e periféricas não dispuseram de concessões ligadas ao acesso aos cinemas. Em diversas localidades, obstáculos relacionados à qualidade de vida da população são vistos como prioridade, enquanto que a informação, a cultura e a educação básica não recebem a devida importância. Somado a isso, deflagra-se a busca incessante pelo conhecimento prático em muitas localidades, em detrimento do saber de construção e de formação do indivíduo.

Diante do cenário de impasses no processo de democratização do acesso ao cinema no Brasil, é fundamental o papel do Ministério da Cultura com o apoio do Governo Federal e da Ancine, no providenciamento de métodos de infraestrutura que estimulem o acesso fácil em áreas situadas longe dos grandes centros culturais, por meio da consolidação de políticas públicas e de privilégios àqueles que se mobilizam em prol das mídias. Desta forma, com o objetivo de tornar a participação popular mais efetiva, garante-se a adesão ao cinema de todas as esferas sociais e a disseminação do saber artístico e cultural.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 28/05/2020
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