Mitos sobre a filosofia

1. Surgiu na Grécia

O conceito de "filosofia" [e sua estruturação] foi constituído na Grécia clássica, mas a emergência da autoconsciência humana e consequente ímpeto de busca por verdades (mesmo quando sem sucesso) são muito mais antigos e naturais, como resultado da trajetória evolutiva da inteligência de nossa espécie. Os pensadores gregos deram nome e forma ao que existia fluidamente, como parte essencial da natureza humana. A filosofia como conceito e estrutura foi uma invenção grega. A filosofia como expressão foi/é uma necessidade humana.

2. É incompatível com a ciência

Em condições ideais, uma complementa a outra, a filosofia como a consciência da ciência. A filosofia é incompatível com a ciência apenas quando é usada para fins e ou por meios não-filosóficos ou irracionais..

2.1 É compatível com mitologias

Não existe prática sistemática ou coerentemente filosófica em nenhuma mitologia, porque todas negam conhecimentos ou verdades existenciais//absolutas em prol de suas concepções antropocêntricas. Por essa via, alguém que se dispõe a respeitar e transmitir conhecimentos filosóficos com base em "religiões', comete um ato de profunda contradição ao jurar seguir verdades, mas abraçando mentiras que, de certo modo, reconfortam.

2.2 É compatível com ideologias

Não existem múltiplas filosofias, pessoais ou individuais. Parece que ocorre uma confusão entre filosofia e ideologia aqui. Todos nós seguimos ideologias e é até possível dizer que também temos ou desenvolvemos ideologias pessoais, que são estilos de viver e pensar. A filosofia também é uma ideologia ou estilo de vida, mas um tipo muito especial, porque se baseia na busca pela sabedoria. Portanto, a filosofia só é compatível com a sua própria ideologia.

3. Todo professor de filosofia é filósofo

A maioria ou muitos daqueles que se formam em filosofia nas universidades são professores, eu não diria, nem de filosofia, exatamente, mas, mais de história da filosofia, porque passam aos seus alunos seu processo de desenvolvimento histórico (e confusão resultante). Se fossem professores legítimos de filosofia, se centralizariam no ensino do pensar (para agir) com racionalidade.

3.1 Filósofo só é reconhecido como tal por sua popularidade e/ou por credenciais acadêmicas

O filósofo é aquele que, independente se tem diploma e/ou popularidade, respeita e vive a filosofia, pela sabedoria. Até podemos dizer que o filósofo é o principal professor de filosofia. No mais, nada impede que um professor de história da filosofia também possa produzir conhecimentos legítimos em sua área, bem como de buscar vivenciá-la em sua plenitude.

4. Textos filosóficos precisam ser indecifráveis

Mais simples, didático e objetivo for o texto, mais preferível para a prática filosófica. Textos indecifráveis não são coerentes com a proposta da filosofia, se dizem mais sobre dificuldade de escrever com objetividade e/ou narcisismo camuflado de sofisticação do que sobre o conhecimento em si.