O que Honoré de Balzac falou sobre o jogo
O QUE HONORÉ DE BALZAC FALOU SOBRE O JOGO
Miguel Carqueija
Eu digo com frequência que o jogo estatal é apenas mais um imposto que o Estado cobre dos cidadãos: no caso, o imposto sobre a burrice.
Lembro de uma reportagem do tempo da Loteria Esportiva. Um sujeito do Centro-Oeste havia ganho uma fortuna, ficara milionário da noite para o dia. Dois anos depois estava mais pobre que antes e a família fula com ele. Simplesmente, o sujeito havia esbanjado o dinheiro comprando carros e casas para os amigos (nessa hora todo mundo é amigo, não é?) e nada para a ele e a família. Também foi noticiado o caso de outro sujeito que leu errado a informação sobre o bilhete premiado, pegou a esposa e os filhos e saiu para comemorar à grande, sem nem ter recebido o prêmio. Que nem receberia, pois seu pai descobriu que o rapaz não havia ganho.
Vejam bem, a lógica do jogo é você perder, não ganhar. Se a lógica fosse ganhar ninguém bancaria, muito menos o Estado. Mas, dirá alguém, sempre tem quem ganha! Sim, um ou outro ganha, mas a chance é infinitesimal; e a multidão dos que perdem, jogando dinheiro fora, compensa amplamente para quem banca.
No fundo trata-se de cobiça, querer ganhar sem trabalho, a troco de nada. Ou então perseguir um sonho quase impossível. Até suicídios o jogo provoca, principalmente o jogo de cassino, que querem reimplantar no Brasil.
Pois vejamos o que Balzac escreveu a respeito no ano de 1825:
“Há muito tempo que vozes eloquentes se levantam em vão para pedir a abolição desta instituição imoral. A única maneira de cortar o mal pela raiz é demonstrar sua evidência. No dia em que todos estiverem convencidos de que o dinheiro gasto com a loteria está perdido para sempre, que os sete milhões que a loteria rende para o governo são um lucro vergonhoso, fruto de roubo; no dia, enfim, em que ninguém mais gastar com loteria, a autoridade que respeita a moral pública, quando é de seu interesse não violá-la, suprimirá as loterias, que se terão tornado onerosas.”
(do livro “Código dos homens honestos”)
Rio de Janeiro, 6 de junho de 2019.