Vejo tudo como se fosse hoje
Aconteceu numa tarde de chuva. Eu estava do alpendre, quieto, a olhar a chuva. As águas descendo formavam uns mil riozinhos. O vento dobrava as mangueiras e as frutas que estavam maduras esborrachavam no chão com pequeninas explosões. Os relâmpagos, a toda hora, passavam correndo no céu, com pressa de ir a algum lugar. A tempestade não deixava sair de casa, mas que vontade de apanhar aquelas mangas amarelinhas! Pena que elas se estragavam todas.
No fundo do quintal, houve três coqueiros fazendo a divisa do quintal do vizinho. Deles, só um restava e, já velho, talvez não durasse muito. E não durou mesmo: uma ventania repentina e momentânea arrancou violentamente uma parte da velha árvore. Na tempestade, mais um morria.
Não sei por que, mas disso nunca mais pude esquecer. Relembro tudo perfeitamente, vejo tudo como se fosse hoje.
(Pitangui, MG, 1966)